Richard Zimler é um génio da
literatura. Escreve um evangelho apócrifo (mais um), mas que é ao mesmo tempo um
romance.
Zimler, na pele de um Lázaro
(Eli) ressuscitado, que acorda sem saber que esteve morto, onde esteve e se morreu
ou como morreu. Lázaro, numa carta dirigida ao seu neto, conta a sua relação
com Yeshua Ben Yosef (Jesus filho de José) desde a sua infância. Como o salvou
de morrer afogado e como jesus foi para com ele um amigo tal, que os seus
espíritos se entrosavam numa relação de amizade muito para além do comum.
Lázaro, sendo um homem com vida normal, viúvo, pai de dois filhos, vivendo com
as suas duas irmãs e um avô, e até frequentador de lupanares, tinha para com
Jesus uma amizade sensivelmente quase erótica, quase orgástica. A sua descrição
de Jesus é a de um homem, profético, sensível e inteligente, que se imiscui de
tal maneira na sua sensibilidade que não precisa de falar para que a sua voz se
faça ouvir na sua mente. Jesus é descrito como filho de um carpinteiro, Yosef
(José) e de Myriam (Maria), vivendo com os seus dois irmãos Yacob e Yohanon.
Fala, como Jesus se insinua nos povos e os leva a transformarem-se nos
pensamentos, criando nos chefes religiosos judeus, medo e inveja. Pela sua amizade
com Jesus, após a prisão deste e a sua morte na cruz, Lázaro é perseguido e
atacado sendo obrigado a fugir da Betânia e a procurar refúgio primeiro em
Halicarnasso (Anatólia, Turquia), depois na ilha de Rodes (Grécia).
O Interessante neste livro é que
além de romance histórico (tenho dúvidas dessa historicidade não provada), é
também religioso, psicológico e descrente. Na Grécia, após 30 anos, começam a
aparecer os primeiros endeusadores de Jesus devido a influências romanas, criando
a falsidade da virgindade de Maria, o que causa em Lázaro grande indignação,
por o ter conhecido em família desde criança. Lázaro sempre admirou Jesus como
um profeta inteligente com poderes, mas nunca o viu como Deus. Começam aqui as
grandes divergências entre judeus e cristãos.
Este romance é de tal maneira
complexo que, não reconheço em mim cultura suficiente para o comentar mais
profundamente, apesar de gostar imenso de história e ciência das religiões.
443 páginas que se leem com puro
agrado e muita expectativa.
Já tinha lido de Zimler O Último
Cabalista de Lisboa do qual gostei imenso, mas este livro supera em muito o que
Zimler até aqui escreveu (opinião dos críticos).
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