Grande auditório da Culturgest
Normalmente quando vou ver uma
peça de teatro gosto sempre de ler algo sobre a mesma. Aqui não foi o caso.
Comprei bilhetes na véspera pela Net dado que uma das intérpretes era uma neta
de uma amiga minha. A moça tem apenas 15 anos e já frequenta um curso profissional
de teatro. Fiquei curioso, mas não me documentei. Acabei por me sentar na
plateia sem ter noção do que no palco se ia passar.
Confesso que me senti pouco
inteligente. Aquilo pareceu-me uma escola de raparigas com professoras
absolutamente rígidas e com uma obsessão absoluta pela educação física. Também
me deu a ideia de que as moças andavam por um lado entusiasmadas, mas por outro
absolutamente com ideias auto-destrutivas. Também vi por ali algum erotismo nas
relações entre elas e de elas para as professoras. No meio daquilo andava por
ali apenas um rapaz, vestido à menina, que não consegui enquadrar no contexto.
Aquilo acabou e fiquei algo
desconsolado brincando até pelo facto de não ter entendido tudo lá muito bem.
Não é uma peça para se ir às escuras. Claro que agora, no remanso do lar, fui
documentar-me sobre o enredo. O autor, Jeffrey Eugenides, era-me
completamente desconhecido. É um americano de origem irlandesa nascido em 1960
e este seu trabalho ficou bastante conhecido graças à adaptação para o filme
realizado por Sofia Copola em 1999. Fui ler o enredo do filme e que, diga-se de
passagem, é muito difícil compará-lo com a peça que vi.
Fiquei então a
saber algo mais. O encenador, John Romão, que desconhecia totalmente, construiu
uma ideia de educação, numa casa, onde as raparigas estavam completamente em
exclusão do que se passaria no mundo exterior, preparando-as para que fossem
quase como obras de arte. Tudo isto muito centrado na educação física. Nota-se
uma ligação forte entre elas e as professoras, mas ao mesmo tempo uma obsessão auto-destrutiva simbolizada pelos enforcamentos visíveis, mas não reais. A
educação é tal que o único ser masculino que por ali anda, se julga uma
rapariga e algo surpreso por ter um órgão sexual diferente das demais e, até se auto-mutila provocando sangue no órgão para ser um menstruado como as demais.
Tudo acabou e
ninguém morreu. Vá lá, pelo menos isso… Parabéns à neta da minha amiga, mas
achei que esta obra não seria o melhor começo para as suas aspirações.
Virgens Suicidas (continuação)
Após ter visto a peça na
Cultugest e depois do que escrevi acerca, procurei ver o filme da Sofia Copola.
Um amigo consegui-me um “download”, infelizmente com legendas em versão
brasileira, e vi-o através da minha “smart tv”. Uma boa realização, mas que me
deixou completamente baralhado, pois sendo a base temática a mesma, o enredo
nada tem a ver com o que vi na peça. Aqui trata-se de um casal super religioso,
com 5 filhas que através de uma educação espartana e restritiva tentam
afastá-las dos males do mundo. Uma das filhas acaba pondo fim à vida
atirando-se da janela sobre uma grade pontiaguda. O casal, mesmo contrariado,
tenta abrir um pouco a liberdade das moças, o que se torna absolutamente
catastrófico. Depois de tanto restringimento as moças totalmente impreparadas
entram no disparate a ponto da mais velha se entregar a um rapaz que a amava,
mas após o acto a abandona. Daí a tornar-se uma ninfomaníaca foi um ápice. As
outras acabam por sair à noite depois dos pais dormirem e saem com rapazes
felizmente não muito devassos. Após uma das saídas, descoberta pelos pais, a
repressão passa a ser ainda mais intensa. Tudo acaba com o suicídio,
praticamente colectivo, das raparigas. O filme é narrado por um dos rapazes,
dando a ideia que virá a ser o autor do romance.
Sim, do romance, pois é de um
romance que se trata e não de uma peça teatral como erradamente supunha. Decidi
então fazer mais umas procuras através da Diciopédia sobre o autor Jeffrey
Eugenides e, qual o meu espanto quando leio que o filme da Sofia Copola
respeita o original.
Conclusão: É o encenador da peça
da Culturgest que, mantendo a filosofia temática, adultera totalmente o romance.
E pronto. Fiquei mais
esclarecido.
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