(Leituras de Praia)
De: Primo Levi
Primo Levi foi um judeu italiano
de Turim. Licenciado em Engenharia Química e escritor. Em 1944 foi preso pela
polícia italiana e entregue aos alemães que o internaram em Auschwitz Teve a
sorte de naquela altura os nazis precisarem de muita mão de obra e, portanto,
ter sido poupado ao extermínio como muitos outros, velhos, doentes ou demasiado
novos para o trabalho duro. Neste livro, Primo Levi quase não descreve, ou
pouco refere os algozes, limitando-se apenas a descrever a vivência entre os
internados; as privações, a fome, o frio, o trabalho duro e, principalmente, os
roubos, as manipulações maliciosas para conseguirem alimento, roupas, etc. O
aproveitamento feito pelos SS daqueles mais duros para serem os dirigentes.
Chefes que se impunham pela força e que tratavam os seus iguais de pior forma
que os próprios nazis. Os alojamentos com montes de beliches duplos na lateral
e em três andares, deixando um espaço exíguo onde os prisioneiros mal cabiam de
pé, não podendo durante o dia tocar nas camas feitas apenas com dois pobres
cobertores onde mal se podiam enrolar. Em cada andar dos beliches tinham que
dormir dois que, não cabendo lado a lado, tinham de deitar-se um com a cabeça
junto aos pés do parceiro. A descrição dos cheiros, das latas da urina, das
latrinas, etc… é de tal forma que o leitor imaginando, quase consegue sentir os
maus odores. Tinham de roubar trapos e papéis para por nos sapatos de madeira
que esfolavam os pés ao ponto de terem chagas enormes. Trocavam tudo o que
apanhavam por um bocado de pão negro ou por mais litros de sopa de más
hortaliças e nabos. O tormento da fome e do frio era enorme e muitos não
resistiam, mas muitas vezes preferiam ficar doentes para poderem permanecer uns
dias na enfermaria sem irem trabalhar em locais que os obrigavam a grandes
marchas demasiado penosas devido ao mau calçado e às feridas nos pés. Só que a
doença não podia ser demasiada ou corriam o risco de serem enviados para os
fornos de extermínio. Não eram tratados pelo nome que praticamente se perdia,
mas sim pelo número tatuado num antebraço. Pouco falavam uns com os outros e as
amizades criadas quase não existiam. Havia prisioneiros de imensas
proveniências e as línguas eram tantas que mais parecia uma Babel. Eram
obrigados a prender imensas palavras em alemão se queriam fazer-se entender por
um maior número de internados. O livro foi escrito entre 1945 e 1947, portanto,
após os factos vividos. Todo o livro é um registo de horrores que só termina
com a fuga dos nazis devido à aproximação dos soldados russos. A partir daí os
prisioneiros, com a liberdade, conseguem algum alimento e roupas que os
aguentou até à libertação total. Se até ali, Levi perguntava “Se Isto É Um Homem?”,
começou então a sentir-se de novo um homem.
Será que os que ainda hoje põem
em causa o Holocausto, leram este livro? Será que alguém pode defender aquele
regime?
Primo Levi escreveu muitos mais
livros e eu já li pelo menos outro “A Tabela Periódica”. Nesse não falava de
Auschwitz, mas apenas de química, a sua química que muito o ajudou nos
trabalhos que lhe foram impostos. Mas o mal ficou lá. Primo Levi acabou por se
suicidar mais tarde caindo de uma escada interior, apesar da família ter sempre
defendido a queda acidental.
À
época, Elie Wiesel, um escritor judeu também ele sobrevivente dos
campos de concentração nazis, disse que: "Primo Levi morreu em Auschwitz
há quarenta anos".
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