segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Se Isto é Um Homem


(Leituras de Praia)

De: Primo Levi

 

Primo Levi foi um judeu italiano de Turim. Licenciado em Engenharia Química e escritor. Em 1944 foi preso pela polícia italiana e entregue aos alemães que o internaram em Auschwitz Teve a sorte de naquela altura os nazis precisarem de muita mão de obra e, portanto, ter sido poupado ao extermínio como muitos outros, velhos, doentes ou demasiado novos para o trabalho duro. Neste livro, Primo Levi quase não descreve, ou pouco refere os algozes, limitando-se apenas a descrever a vivência entre os internados; as privações, a fome, o frio, o trabalho duro e, principalmente, os roubos, as manipulações maliciosas para conseguirem alimento, roupas, etc. O aproveitamento feito pelos SS daqueles mais duros para serem os dirigentes. Chefes que se impunham pela força e que tratavam os seus iguais de pior forma que os próprios nazis. Os alojamentos com montes de beliches duplos na lateral e em três andares, deixando um espaço exíguo onde os prisioneiros mal cabiam de pé, não podendo durante o dia tocar nas camas feitas apenas com dois pobres cobertores onde mal se podiam enrolar. Em cada andar dos beliches tinham que dormir dois que, não cabendo lado a lado, tinham de deitar-se um com a cabeça junto aos pés do parceiro. A descrição dos cheiros, das latas da urina, das latrinas, etc… é de tal forma que o leitor imaginando, quase consegue sentir os maus odores. Tinham de roubar trapos e papéis para por nos sapatos de madeira que esfolavam os pés ao ponto de terem chagas enormes. Trocavam tudo o que apanhavam por um bocado de pão negro ou por mais litros de sopa de más hortaliças e nabos. O tormento da fome e do frio era enorme e muitos não resistiam, mas muitas vezes preferiam ficar doentes para poderem permanecer uns dias na enfermaria sem irem trabalhar em locais que os obrigavam a grandes marchas demasiado penosas devido ao mau calçado e às feridas nos pés. Só que a doença não podia ser demasiada ou corriam o risco de serem enviados para os fornos de extermínio. Não eram tratados pelo nome que praticamente se perdia, mas sim pelo número tatuado num antebraço. Pouco falavam uns com os outros e as amizades criadas quase não existiam. Havia prisioneiros de imensas proveniências e as línguas eram tantas que mais parecia uma Babel. Eram obrigados a prender imensas palavras em alemão se queriam fazer-se entender por um maior número de internados. O livro foi escrito entre 1945 e 1947, portanto, após os factos vividos. Todo o livro é um registo de horrores que só termina com a fuga dos nazis devido à aproximação dos soldados russos. A partir daí os prisioneiros, com a liberdade, conseguem algum alimento e roupas que os aguentou até à libertação total. Se até ali, Levi perguntava “Se Isto É Um Homem?”, começou então a sentir-se de novo um homem. 

Será que os que ainda hoje põem em causa o Holocausto, leram este livro? Será que alguém pode defender aquele regime?

Primo Levi escreveu muitos mais livros e eu já li pelo menos outro “A Tabela Periódica”. Nesse não falava de Auschwitz, mas apenas de química, a sua química que muito o ajudou nos trabalhos que lhe foram impostos. Mas o mal ficou lá. Primo Levi acabou por se suicidar mais tarde caindo de uma escada interior, apesar da família ter sempre defendido a queda acidental.

À época, Elie Wiesel, um escritor judeu também ele sobrevivente dos campos de concentração nazis, disse que: "Primo Levi morreu em Auschwitz há quarenta anos".    

 


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