de Albert Camus
Leituras de praia
Nunca tinha lido Camus. Fazia
ideia de um filósofo cheio de silogismos e sofismas, e não saiu nada disso.
Este Romance até o comecei a achar cheio de vulgaridades, mas a filosofia está
lá. Aliás mais na segunda parte do livro do que na primeira.
Um cidadão francês vive e
trabalha na Argélia há cinco anos com a mãe, mas esta colocada num asilo por
estar doente e ele não ter recursos para a manter num lugar melhor. Pouco a
visita, dado o ambiente constrangedor e, até por não haver grande comunicação
com a sua progenitora, que pouco fala durante os momentos em que está com ela.
Falou apenas uma ou duas vezes no pai que ele não chegou a conhecer e nada lhe
dizia.
Recebe uma carta do director
asilo a comunicar-lhe a morte da mãe e o nosso homem desloca-se lá para o
funeral. Quando na morgue do asilo lhe perguntam se quer ver a mãe diz que não.
No funeral um padre faz-lhe a mesma pergunta e torna a recusar. Sente a morte da
mãe, mas toma-a como um facto natural.
No prédio onde vive faz amizade
com um morador, Raimundo de seu nome, e é visitado pela sua amante Maria.
Deseja-a, mas quando ela lhe pergunta se a ama responde que não. Para ele
bastava-lhe a companhia, o desejo, o sexo e a comunicação. Amor? Não sentia. O
amigo tem uma altercação com o irmão da própria namorada, a quem tinha
agredido, e chegam a vias de facto.
Um dia, na praia com a amante e o
amigo, são atacados por três árabes e acabam numa cena de pancadaria saindo
vencedores, mas um deles, armado de uma faca, ainda deixa o amigo ferido na
cara e na boca. Os árabes retiram-se, mas o amigo recomenda cuidado, pois
voltariam a atacar. Como o nosso homem estava acompanhado pela sua amante, o
amigo empresta-lhe um revólver que ele aceita como defesa.
Mais tarde, Meursault, o nosso
homem, volta a praia só, para apanhar o fresco marítimo. Passa por uma gruta
onde o árabe, o tal da faca, está deitado. Ao ver Meursault leva a mão ao bolso
e saca da faca. A nossa personagem fica na expectativa, mas resolve retirar-se.
Nessa altura o árabe ataca e Meursault dispara. Depois, sem saber bem porquê,
dá mais quatro tiros no corpo inerte.
É preso e ao fim de meses começa
a ser julgado. É durante a sua prisão que verificamos as ideias filosóficas de
Camus. O tempo passa e o nosso herói vai pensando na vida e não sente o
isolamento da cela e a vida de prisioneiro como uma desgraça e vai-se
habituando à sua condição. No julgamento é-lhe atribuído um advogado por ele
não o ter nem poder pagá-lo. Durante as sessões, o procurador centra-se mais no
facto de ele não ter vertido uma lágrima no funeral da mãe e de se recusar a
vê-la, além de não mostrar qualquer arrependimento pelo crime cometido e se
recusar a receber o padre na cela. Sobre o crime, acusam-no de premeditação por
ter voltado à praia e por ter dado 5 tiros no seu opositor sendo quatro deles
depois do corpo caído e inerte. Meursault é condenado por um júri e o juiz
destina-lhe morte na guilhotina.
No tempo que antecede a execução,
Camus dá então largas á sua filosofia de vida. Na hora da morte o padre torna a
insistir com o nosso homem para se arrepender e voltar-se para Deus. Meursault
recusa e acaba por quase agredir o padre pela insistência deste. Nunca foi
crente, nunca quis ser crente e não seria perante a morte que mudaria.
Numa das laudas de capa, vem
referido que Camus mais tarde ao falar deste seu livro, resume-o numa frase:
“Numa sociedade, todos os homens que não choram no enterro de sua mãe, correm o
risco de serem condenados à morte.”
Meursault viveu sendo apenas
sincero e pela verdade morreu.
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