segunda-feira, 3 de agosto de 2020

O Estrangeiro


de Albert Camus

Leituras de praia

Nunca tinha lido Camus. Fazia ideia de um filósofo cheio de silogismos e sofismas, e não saiu nada disso. Este Romance até o comecei a achar cheio de vulgaridades, mas a filosofia está lá. Aliás mais na segunda parte do livro do que na primeira.

Um cidadão francês vive e trabalha na Argélia há cinco anos com a mãe, mas esta colocada num asilo por estar doente e ele não ter recursos para a manter num lugar melhor. Pouco a visita, dado o ambiente constrangedor e, até por não haver grande comunicação com a sua progenitora, que pouco fala durante os momentos em que está com ela. Falou apenas uma ou duas vezes no pai que ele não chegou a conhecer e nada lhe dizia.

Recebe uma carta do director asilo a comunicar-lhe a morte da mãe e o nosso homem desloca-se lá para o funeral. Quando na morgue do asilo lhe perguntam se quer ver a mãe diz que não. No funeral um padre faz-lhe a mesma pergunta e torna a recusar. Sente a morte da mãe, mas toma-a como um facto natural.

No prédio onde vive faz amizade com um morador, Raimundo de seu nome, e é visitado pela sua amante Maria. Deseja-a, mas quando ela lhe pergunta se a ama responde que não. Para ele bastava-lhe a companhia, o desejo, o sexo e a comunicação. Amor? Não sentia. O amigo tem uma altercação com o irmão da própria namorada, a quem tinha agredido, e chegam a vias de facto.

Um dia, na praia com a amante e o amigo, são atacados por três árabes e acabam numa cena de pancadaria saindo vencedores, mas um deles, armado de uma faca, ainda deixa o amigo ferido na cara e na boca. Os árabes retiram-se, mas o amigo recomenda cuidado, pois voltariam a atacar. Como o nosso homem estava acompanhado pela sua amante, o amigo empresta-lhe um revólver que ele aceita como defesa.

Mais tarde, Meursault, o nosso homem, volta a praia só, para apanhar o fresco marítimo. Passa por uma gruta onde o árabe, o tal da faca, está deitado. Ao ver Meursault leva a mão ao bolso e saca da faca. A nossa personagem fica na expectativa, mas resolve retirar-se. Nessa altura o árabe ataca e Meursault dispara. Depois, sem saber bem porquê, dá mais quatro tiros no corpo inerte.

É preso e ao fim de meses começa a ser julgado. É durante a sua prisão que verificamos as ideias filosóficas de Camus. O tempo passa e o nosso herói vai pensando na vida e não sente o isolamento da cela e a vida de prisioneiro como uma desgraça e vai-se habituando à sua condição. No julgamento é-lhe atribuído um advogado por ele não o ter nem poder pagá-lo. Durante as sessões, o procurador centra-se mais no facto de ele não ter vertido uma lágrima no funeral da mãe e de se recusar a vê-la, além de não mostrar qualquer arrependimento pelo crime cometido e se recusar a receber o padre na cela. Sobre o crime, acusam-no de premeditação por ter voltado à praia e por ter dado 5 tiros no seu opositor sendo quatro deles depois do corpo caído e inerte. Meursault é condenado por um júri e o juiz destina-lhe morte na guilhotina.

No tempo que antecede a execução, Camus dá então largas á sua filosofia de vida. Na hora da morte o padre torna a insistir com o nosso homem para se arrepender e voltar-se para Deus. Meursault recusa e acaba por quase agredir o padre pela insistência deste. Nunca foi crente, nunca quis ser crente e não seria perante a morte que mudaria.

Numa das laudas de capa, vem referido que Camus mais tarde ao falar deste seu livro, resume-o numa frase: “Numa sociedade, todos os homens que não choram no enterro de sua mãe, correm o risco de serem condenados à morte.”

Meursault viveu sendo apenas sincero e pela verdade morreu.

 


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