quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Tiro desportivo militar

 

 

 

 10, bom tiro, + 10, 2º tiro, + 10, 3º tiro, +10, 4º tiro, +10, 5º tiro, isto está a correr bem, boa arma, + 10, 6º tiro, + 10, 7º tiro, +10, 8º tiro, +10, 9º tiro. Tenho 90 pontos, vou fazer 100, nunca consegui tal coisa, ainda bem que comprei estas armas para a equipa.

A barriga assente na prancha de tiro começou a revolver, acomodei-me melhor, coloquei bem os pés. O nervoso miudinho entrou comigo. Respirei fundo. Tentei acalmar-me, tinha de fazer outro 10. Sustive a respiração. O dióptero estava circular com o negro do alvo. Só tinha de fazer sair o tiro quando tudo estivesse perfeito. O tiro saiu. Fiz um 9. 99 pontos, bom demais, mas uma frustração. Como se conseguirá fugir a este “stress” do último tiro?

Era chefe da equipa de tiro da Guarda Fiscal. Tínhamos 6 atiradores de espingarda e 6 de pistola. O tiro de espingarda era a 300 metros e só na serra da Carregueira podíamos treinar. Começámos a atirar de G3 com o “decalitro” na cabeça e botas de polainitos. Como sub-chefe do Serviço de finanças tentei melhorar os equipamentos. O chefe não orçamentou as despesas necessárias. Ficávamos sempre em último, mas competíamos galhardamente. Quando passei a chefe orçamentei o necessário. Adquiri o melhor dos melhores equipamentos. Espingardas Mauser de competição último modelo, casacos e botas de tiro, óculos de longo alcance para ver os resultados, toalhas próprias para limpeza das faces, líquido para lavagem ocular. Não nos faltava nada. No próximo campeonato das Forças Armadas ficámos a meio da tabela. Os resultados de pistola melhoraram muito. Comprei também armas altamente sofisticadas para tiro desportivo militar. Os rapazes melhoraram muito.

Fui fazer a estreia da minha espingarda à Carregueira, carreira de tiro militar minha velha conhecida desde os tempos de Pilão. Depois de acertar a arma e calcular o desvio do vento consegui 99 pontos. Foi muito bom, mas uma frustração, pois convenci-me que pela primeira vez ia conseguir 100. Puro engano. O “stress” não deixou. A GF subiu muito nas classificações. Fomos atirar no campeonato à Base Aérea da Ota que na altura dispunha da melhor carreira de tiro militar. Já possuía alvos electrificados que nos mostravam electricamente as pontuações obtidas. Nunca fiquei em primeiro na minha equipa, um major era bastante melhor e ficava sempre uns pontos acima, mas fui aquilo a que se chama um atirador de elite. Teria sido um bom “sniper” se tivesse estômago para isso. As bichezas em África é que se lixaram.

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