Dádiva Divina
Conhecia Rui Zink apenas da TV e
da rádio, principalmente de um programa que mantém na Antena 1 entre as onze e
a meia-noite. Já apreciava o seu senso de humor, mas nunca tinha lido nada
dele. Dádiva Divina chamou-me a atenção. Gosto de motivos religiosos
principalmente se não forem sectários. Comecei a ler um pouco de pé atrás. Ao
fim de dois dias tinha devorado 300 páginas. É uma espécie de policial com um
detective particular um misto de Sam Spade de Dashiell Hammett e o Filósofo
Spinoza, daí o seu nome Samuel Spinosa.
Este norte americano, judeu não
crente, é contratado por uma firma tipo clínica particular e é-lhe dado um
retracto robô para encontrar o original. O nosso Sam começa a desconfiar pois o
“cachet” foi enorme. Disseram-lhe para não se poupar a despesas e que começasse
por Adis Abeba onde um contacto o procuraria e que não se preocupasse, pois, esse
contacto saberia encontrá-lo. No avião, em classe executiva, Sam olhava o
retracto robô e cada vez mais espantado ficava pois poderia ser qualquer um,
olhando bem até poderia ser Jesus Cristo.
Na cidade etíope Sam correu tudo
o que era café e tascas. Num deles deu com um padre católico acompanhado de uma
italiana de olhos grandes. Sam, com o seu faro detectivesco aproxima-se e nota
grande animosidade por parte do padre que se diz irlandês de nome O’Reilly e a
acompanhante, de seu nome, Chiara. Esta mais tarde revela-se aquilo que Sam já
esperava, o seu contacto. Mais tarde um etíope magrinho e de barba que se
confessa judeu coisa que surpreendeu Sam, faz-se encontrado. Este último parece
saber quem Sam procura e diz-lhe que terá de ir à África do Sul e depois
certamente a Roma e só aí encontrará respostas.
Após um encontro com um sul
africano, Van Nuydem, um Boer anti-apartaide, que viajava com um africano de
nome Massano que não tinha polegares, porque lhos cortaram, mas que tudo
manejava e bem. Ao saber que Sam desejava rumar ao seu país oferece-se por lhe
dar boleia de carro até Moçambique a dali logo se via.
Após muitas peripécias Sam é
mordido por uma mamba. Massano usa o seu saber para tentar extrair-lhe o
veneno, mas Sam entra num coma prolongado. Sam sonha muito e revê toda a sua
vida: a separação da mulher e que é apanhado por uma seita que o quer
baptizar para aceitar Cristo, coisa que recusa com repulsa, mas acaba
mergulhado em água…
Os companheiros dão-no como
morto, mas Sam acorda num hospital em Moatize, Moçambique onde uma branca tenta
curar crianças e poucos adultos vítimas do HIV. Aqui Sam apaixona-se e acaba
envolvido com a mulher que lhe confessa ser seropositiva e agora ele certamente
também será. O hospital acaba atacado por bandidos armados comandados pelo
padre católico, O’Reilly que dispara a torto e a direito gritando “Blasfémia!
blasfémia!”. A Drª Graça é atingida e morre. Massano, grande lutador, acaba com
muitos dos bandidos, mas é ferido de morte. O’Reilly foge. Graça, antes de
morrer, confessa ter dado a Sam uma transfusão do seu sangue, única maneira de
o salvar, mas que o tornou seropositivo. Sam fica a saber que o ataque sofrido
era para o apanhar. O´Reilly tentava por todos os meios que ele não encontrasse
quem pretendia.
É muito difícil contar um livro
que tem muitos pensamentos e sonhos. Um judeu ateu a tentar encontrar alguém
que julgam ser Cristo e que não sabem por onde anda. Daí muitos pensamentos de
ordem filosófica e religiosa. Mas o nosso Sam encontra-o e logo em Lisboa, onde
ajudado por uma prostituta que o leva a um túnel antro de droga e lá estava
ele, apático, quieto e abúlico. Depois de atacado e espancado consegue fugir e
leva-o com ele. Já na clinica, em Hudson na nova Inglaterra, Sam entrega-o ao
que o contratara a quem chamava Ken, namorado da Barbie, sempre impecável bem
vestido e aprumado. No gabinete estava o padre O’Reilly e Chiara. Ken explica
que aquele era Jesus ressuscitado e só um judeu não crente o poderia ter
encontrado. Com o sangue dele iriam fazer fortuna vendendo a imortalidade. Sam
riu-se, mas O’Reilly grita mais uma vez “Blasfémia”. Chiara puxa por uma arma e
dá-a a Ken que a encosta à cabeça do padre e diz: Você vai morrer, e não vai encontrar Deus
porque pecou e Jesus também não vai encontrar porque ele vai ficar aqui por
todo o sempre a ajudar-nos. Sam reagiu por instinto. Deu uma palmada na mão de
Ken que disparou e acertou na barriga de Chiara. O segurança apontou a pistola
metralhadora e Sam deu-lhe um tiro no peito, mas não o matou devido a um colete
anti bala. Surpreendentemente o padre prostra o segurança com um golpe em
cutelo que o abateu. Ken atirou-se a Sam e o padre também surpreendentemente
derruba-o com uma coronhada. Chiara continuava viva e Sam meteu-lhe uma bala na
testa. O padre, já ferido, volta-se para Sam e diz-lhe: “Leve-o daqui, proteja-o,
esconda-o e se não conseguir ponha-lhe termo à vida.”
Sam termina a sua actividade de
detective e acaba numa comunidade de judeus ortodoxos que lhe fornecem um
quarto com duas camas onde ele vai vivendo com o seu mudo e quedo companheiro
que todos julgam ser atrasado mental, mas Sam pensa ir para outro lado. Parece
já haver desconfianças, todos vão envelhecendo e “Jesus” permanece na mesma.
Que tal? Não é uma delícia?
Já gosto mais de Rui Zink.
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