O regresso
Como será? Estará como recordo? O
meu pensamento ainda está lá. Aqui é o meu meio. Aqui vivi, mas as recordações
estão ténues. Recebem-me. Abraçam-me. Perguntam-me. Sinto-me apertado. Como eu quero
e desejo corresponder. Mas algo mudou. Serei eu? Serão eles? Todos falam. Todos
querem saber. Os meus ouvidos ressentem-se. A casa é a mesma. Mais pequena?
Tudo me parecia maior antes. Chego à porta da frente. O mureto do terraço
demasiado baixo confundiu-me. Caramba, só tinha saído há dois anos. Por que as
coisas estão diferentes? Ou serei eu? Sinto o carinho dos que me recebem. Tento
corresponder. A cabeça está lá. O pensamento também. Tanto que aconteceu. Tanto
que já vivi em tão pouco tempo. Tão longe e tão perto. O mar imenso. A
montanha. A praia branca de areia fina. As gentes. O carinho. O conforto.
Porquê a mim? Mereço isto? Uma vida diferente. A saudade. O que se vai
desvanecendo. A rotina.
O tempo corre, mas devagar. O
azar acontece. Tenho de sair. Mudar de novo. Porquê? Haverá uma razão? Não
creio. A vida é uma sucessão de factos. Nada a condiciona nada a altera. Apenas
factos que se sucedem. Uns bons. Outros maus. Este foi mau. Teremos que o
superar. Mas tudo nos muda, tudo nos altera. O conhecimento acumula-se. O saber
é bom. O não saber tudo é mau. Não se pode saber tudo, mas pode-se procurar conhecer.
Gosto do que vou conhecendo. Abomino o desconhecido. Mas o conhecido também muda.
Ou seremos nós a mudar?
Aqui e agora sinto-me mudado.
Esquecido? Será a minha mente que retém algo que existe aqui, que eu conheço,
mas vejo de outro modo? Deixo-me levar. O amanhã fará de mim algo que eu já sou…
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