A minha primeira namorada
chuchava no dedo. Ela morava do outro lado e da parte mais alta da rua. Eu cá
em baixo numa casa de rés-do-chão. Lá de cima olhava-me com olhares lânguidos
chuchando por de trás das vidraças da janela da cozinha. Teria os seus 8 anos e
eu uns 9 quase dez. Não era grande o meu amor por ela, mas havia da minha parte
uma certa ternura. Um dia, a brincarmos ás escondidas, metemo-nos numa casa
ainda em obras iniciais. Escodemo-nos na divisão mais pequena, penso que seria
uma casa de banho ainda só em tijolo e com alguma, pouca, massa de reboco. Como
estávamos muito juntinhos dei-lhe um beijo na boca. A partir daí, a moça que já
gostava de mim, ficou completamente apaixonada. O meu beijo fê-la deixar de
chuchar no dedo. Por trás da casa dela havia um quintal onde se se semeavam
favas. Quando o faval já nos cobria enrolámo-nos por lá e demos umas grandes
beijocas e as nossas mãos fizeram algumas explorações. Fugíamos aos irmãos dela
que eram meus amigos e de nada suspeitavam. Aos 10 anos, após ter feito a
terceira, quarta e admissão aos liceus, fui para o Passos Manuel em Lisboa e lá
andei um ano perdido por comboios e na grande cidade, mais na brincadeira do
que no estudo. Chumbei bem chumbadinho.
À noite em casa, lá via a cachopa
atrás das vidraças. Voltara a chuchar no dedo. O meu Pai meteu-me no Pilão. Só
me disse que era para compensar o ano perdido. Aí já com 11 anos, só ia a casa
ao fim de semana e era quando não estava detido por castigo. Aos 13 comecei a
namorar uma de duas irmãs que passavam férias no Cacém. Já me sentia um homem e
pensava que casaria com aquela. Passávamos muito tempo no terraço da casa dos
meus amigos. A irmã já não chuchava no dedo, mas morria de ciúmes. Olhava os
meus avanços sobre a outra com olhos fulminantes. Esse namoro durou 3 anos e,
praticamente, só no tempo de férias. Depois acordámos em parar para pudermos
estudar, com a promessa de mais tarde, se ainda gostássemos um do outro,
reatarmos o namoro. Só que outra se meteu pelo meio e foi o fim. Choro e
lágrimas. Com essa ia casando, mas assim não aconteceu pois passados 4 anos, já
Alferes, fui para as Caldas da Rainha e outra também apareceu na minha vida. A
separação da anterior foi dolorosa para ela pois já nos adiantáramos na
relação. Foi chato. Mas a que chuchava no dedo não me esqueceu. Sem sucesso,
coitada. Entretanto fui para Timor e moça das Caldas também passou à história.
Em Timor vivi outra paixão, essa proibida. No regresso a Portugal, com uma
perna partida, fui operado no Hospital Militar. Ao acordar da operação vi uns
olhos bonitos, uma saia azul e umas lindas pernas com sapatos de saltos altos.
Foi a última e definitiva. Casei. Até hoje. Soube pela minha Mãe que a da
chucha casara. Nunca mais a vi.
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