sexta-feira, 24 de junho de 2022

Os Filhos

 

 

Ontem fui ao teatro. Tenho andado um pouco afastado da arte de Molière e Gil Vicente. Presentemente dá-me mais jeito ir ao cinema. Deve ser uma incongruência, mas parece-me mais simples. Além do mais o cinema enquadra-nos mais rapidamente na história. No teatro leva mais tempo a metermo-nos no problema e isso depende muito dos actores. No caso presente foi difícil. Mas vamos à peça em si.

Hazel e Robin (Maria José Pascoal e João Lagarto) são engenheiros reformados de uma central nuclear cujo reactor rebentou devido a uma onda (alusão talvez ao Japão, mas no texto nada o refere) que recebem a visita de uma colega que não viam há 38 anos. Hazel apresenta uma histeria completa e fala pelos cotovelos com uma rápida dicção, muitas vezes quase incompreensível. Com o decorrer ficamos a saber que a visita, Rose (Custódia Galego), foi amante de Robin antes e mesmo depois do casamento com Hazel. O Casal tem 4 filhos com quem falam telefonicamente durante a peça, mas não pesam muito na história. Rose apresenta-se como tendo sido chamada para voltar ao serviço à central nuclear com o motivo de libertarem os novos trabalhadores, uma vez que eles ainda terão muitos anos a viver e os “velhos”, mesmo que sejam contaminados, já terão vivido a sua vida e tenta aliciar o casal para fazerem o mesmo. Rose mostra que a contaminação sofrida lhe fez perder os dois peitos e Robin tem acessos de tosse ensanguentados. O conflito surge dado que o casal tem filhos e Rose não. Por sua vez Hazel “sente” que Rose volta para lhe roubar o marido. A histeria que apresenta é enorme e nota-se que a separação entre o casal também é grande.

É, portanto, uma peça que nos faz pensar que os novos têm melhores razões para viver e os “velhos” Já pouco têm a esperar da vida e devem, portanto, tentar salvar a descendência.

Não fora o papel demasiado histriónico de Maria José Pascoal, com uma verbalidade exageradamente rápida, que a torna quase incompreensível, estaríamos perante uma boa peça. Não gostei totalmente. Realço um bom papel de Custódia Galego, com uma verbalidade aceitável assim como a de João Lagarto. Acaba por ser um texto sobre a degradação e ao mesmo tempo sobre os amores passados. Os filhos não são propriamente os deles, mas sim as novas gerações.

O Teatro Aberto tem um restaurante chamado “Pano de Boca” onde jantámos a seguir. Bom ambiente e uns pratos razoáveis. Foi uma noite bem passada. Chegámos a casa antes da meia noite.

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