quinta-feira, 11 de junho de 2020

Interstellar


Filme visto há uns tempos. Escrevi sobre ele e publiquei no Boletim da APE. Resolvi agora colocar aqui a minha crítica.


(Publicado no Boletim 237 de 2015)

 

Não sou grande adepto de ficção científica. Procurei sempre fugir dela quer em filmes, banda desenhada ou livros. A excepção foi o estupendo filme de Stanley Kubrick “2001 Odisseia no Espaço”. Este excelente filme foi uma fuga total aos estereótipos do género. O filme que dá origem a este escrito, “Interstellar”, despertou a minha atenção por alguma crítica que li, levando-me a quebrar um pouco esta minha aversão à ficção científica. Não dei o tempo por perdido, e foi muito tempo, 2 horas e 40 minutos de projecção que se passam num ápice. Mesmo as cenas mais lentas e demoradas não cansam pela ânsia do espectador ao que a seguir virá.

Vê-se que Christopher Nolan, realizador do filme, é um fã de Kubrick, mas descanse o leitor que este filme não é só Kubrick, mas sim o seguimento de um certo espírito de Kubrick num filme diferente. Aqui, Nolan explora muito o ser humano como mesquinho, destruidor, provocador de cataclismos capazes de pôr em risco a vida na Terra, mas por outro lado um ser sentimental agarrado a conceitos morais e familiares, munido de uma capacidade de aventureirismo científico que o leva a tentar encontrar outros mundos onde a humanidade possa sobreviver.

A junção de sentimentos com ciência está muito bem entrosada nesta película e, quem tiver interesse em conhecer alguma coisa sobre o universo e as suas leis, algo de Einstein e de Stephen Hawking, consegue perceber muito bem a odisseia que o filme mostra. Quem não entender nada disso vê o filme como uma boa aventura inter-espacial com personagens dotadas de sentimentos humanos e esperança na continuação da vida. Realmente “wormholes” (buracos de minhoca ou vermes), buracos negros, teoria quântica e domínio da gravidade, não é propriamente para toda a gente, mas não é preciso perceber muito disso pois no filme também não se explicam as coisas de modo a serem entediantes.

Não interessa expressar aqui o argumento mas, no entanto, aqui fica um cheirinho:

 Cooper (Matthew McConaughey), um engenheiro espacial e ex-piloto da NASA, viúvo, dedica-se agora a cultivar milho em larga escala, numa tentativa de produzir alimento para uma população terrestre que já não consegue sustento suficiente num planeta devastado por catástrofes ambientais, onde a seca, os ventos e nuvens de pó tudo secam e devastam. A sua relação com os filhos é excelente e muito próxima mas, acaba convidado por um cientista a retomar a pilotagem de naves com vista a prosseguir investigações iniciadas por três cientistas que tinham partido para três planetas nas proximidades de Saturno, que tinham deixado de transmitir notícias. A sua filha Murphy (Mackenzie Foy, excelente papel) adolescente, sofre com a separação e pede ao pai que não parta, mas o amor entre eles não segura o astronauta que pretende encontrar novo poiso para continuação da espécie humana. A viagem com alguns companheiros, entre eles Brand (Anne Hathaway) a filha do cientista chefe do processo (Michael Caine), acompanhados do super robot-computador Tars (aqui está um elemento kubickiano, uma espécie do computador Hall de 2001) é atribulada mas atinge o objectivo. Cooper, sempre com a ideia de reencontrar os filhos, inicia o regresso vindo a reencontrar a filha, já numa estação na órbita de Saturno como plataforma para o novo mundo entretanto já possível pela resolução, por parte de Murph, da equação em que o professor Brand trabalhava. Só que Murphy está 60 anos mais velha do que ele, apenas poucos anos mais velho, devido à distorção temporal (teoria da relatividade de Einstein) pelo atravessar do buraco negro Gargantua.

A tentativa de procura de um final feliz, mesmo ao estilo americano, foi do que menos gostei. Mas valeu a pena. Filme a não perder.

 


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