Filme visto há uns tempos. Escrevi sobre ele e publiquei no Boletim da APE. Resolvi agora colocar aqui a minha crítica.
(Publicado no Boletim 237 de 2015)
Não sou grande adepto de ficção científica. Procurei sempre fugir
dela quer em filmes, banda desenhada ou livros. A excepção foi o estupendo
filme de Stanley Kubrick “2001 Odisseia no Espaço”. Este excelente filme foi
uma fuga total aos estereótipos do género. O filme que dá origem a este escrito,
“Interstellar”, despertou a minha atenção por alguma crítica que li, levando-me
a quebrar um pouco esta minha aversão à ficção científica. Não dei o tempo por
perdido, e foi muito tempo, 2 horas e 40 minutos de projecção que se passam num
ápice. Mesmo as cenas mais lentas e demoradas não cansam pela ânsia do
espectador ao que a seguir virá.
Vê-se que Christopher Nolan,
realizador do filme, é um fã de Kubrick, mas descanse o leitor que este filme
não é só Kubrick, mas sim o seguimento de um certo espírito de Kubrick num
filme diferente. Aqui, Nolan explora muito o ser humano como mesquinho,
destruidor, provocador de cataclismos capazes de pôr em risco a vida na Terra,
mas por outro lado um ser sentimental agarrado a conceitos morais e familiares,
munido de uma capacidade de aventureirismo científico que o leva a tentar
encontrar outros mundos onde a humanidade possa sobreviver.
A junção de sentimentos com
ciência está muito bem entrosada nesta película e, quem tiver interesse em
conhecer alguma coisa sobre o universo e as suas leis, algo de Einstein e de Stephen
Hawking, consegue perceber muito bem a odisseia que o filme mostra. Quem não
entender nada disso vê o filme como uma boa aventura inter-espacial com
personagens dotadas de sentimentos humanos e esperança na continuação da vida.
Realmente “wormholes” (buracos de minhoca ou vermes), buracos negros, teoria
quântica e domínio da gravidade, não é propriamente para toda a gente, mas não
é preciso perceber muito disso pois no filme também não se explicam as coisas
de modo a serem entediantes.
Não interessa expressar aqui o
argumento mas, no entanto, aqui fica um cheirinho:
Cooper (Matthew McConaughey), um engenheiro espacial e ex-piloto da NASA,
viúvo, dedica-se agora a cultivar milho em larga escala, numa tentativa de
produzir alimento para uma população terrestre que já não consegue sustento
suficiente num planeta devastado por catástrofes ambientais, onde a seca, os
ventos e nuvens de pó tudo secam e devastam. A sua relação com os filhos é
excelente e muito próxima mas, acaba convidado por um cientista a retomar a
pilotagem de naves com vista a prosseguir investigações iniciadas por três
cientistas que tinham partido para três planetas nas proximidades de Saturno,
que tinham deixado de transmitir notícias. A sua filha Murphy (Mackenzie Foy, excelente papel) adolescente, sofre com a
separação e pede ao pai que não parta, mas o amor entre eles não segura o
astronauta que pretende encontrar novo poiso para continuação da espécie
humana. A viagem com alguns companheiros, entre eles Brand (Anne Hathaway) a filha do cientista chefe
do processo (Michael Caine), acompanhados do super robot-computador Tars (aqui
está um elemento kubickiano, uma espécie do computador Hall de 2001) é
atribulada mas atinge o objectivo. Cooper, sempre com a ideia de reencontrar os
filhos, inicia o regresso vindo a reencontrar a filha, já numa estação na
órbita de Saturno como plataforma para o novo mundo entretanto já possível pela
resolução, por parte de Murph, da equação em que o professor Brand trabalhava.
Só que Murphy está 60 anos mais velha do que ele, apenas poucos anos mais
velho, devido à distorção temporal (teoria da relatividade de Einstein) pelo atravessar
do buraco negro Gargantua.
A tentativa de procura de um
final feliz, mesmo ao estilo americano, foi do que menos gostei. Mas valeu a
pena. Filme a não perder.
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