quinta-feira, 11 de junho de 2020

Vadiar


Resolvi publicar aqui alguns textos que tenho escritos e são anteriores à pandemia.


                         Hoje não houve piscina e era um dos meus dias de fazer natação.                            Um festival ou “workshop” ou qualquer coisa semelhante, ocupou o pavilhão gimnodesportivo e os utentes ficaram sem espaço.

Quando assim acontece ocupo o tempo com uma passeata aqui pelos meus sítios. Apanho um pouco do sol envergonhado, que vai espreitando entre as nuvens, e vou cogitando. Vou reparando em algumas embalagens que as pessoas deixam por aí. Quando tenho um ecoponto perto, apanho-as e meto-as onde deveriam estar.

Reparo que muitas são deixadas para servirem de bebedouro aos passarinhos. Também outras servem para colocar comida para gatos. Má prática essa. Os passarinhos sabem muito bem encontrar água para as suas necessidades. No campo ninguém lá deixa vasilhas.

Reparo também que há muito menos, ou quase nenhuns, gatos selvagens. Os que andam pelos jardins têm normalmente dono. Só que, alguns, abrem-lhes a porta e deixam-nos passear sós. São esses que se aproveitam da “caridade” daqueles que não pensam que estão a poluir o ambiente a contribuir para a proliferação das ratazanas. Essas é que aproveitam as dádivas.

Noto também que não se vêm cães vadios. Há muitos cães, mas a passear com os donos. De trela de estica encolhe lá vão eles pela relva enquanto os donos, de saquinho de plástico na mão, esperam pacientemente que os bichanos resolvam a sua necessidade de alívio intestinal. Vá lá, nisso estamos a ficar mais conscientes, mas em muitas ruas, mais escondidas, ainda temos que fazer “slalom” para não levarmos nas solas o que os donos dos bichinhos têm na cabeça. Tenho um pouco de pena dos cãezinhos por terem pouco espaço para exercício, apesar das trelas extensíveis, os bichos pouco ou nada podem correr. Um cão que viva num apartamento, tem necessidade de correr livremente. Mas, continuando a falar em cães vadios, penso que eles já não aparecem porque a CM os apanha, felizmente sem quase darmos por isso. Pobres bicharocos que já não podem vadiar.

E aqui, atendendo a esta palavra, acho que vadiar até é uma coisa boa, pois eu, quando por aqui vou andando, também estou a vadiar.

O dicionário de português refere: “Vadiar Andar à toa, passear. Levar vida ociosa. Não estudar, não trabalhar”.

É precisamente o que faço.

Esta palavra faz-me lembrar o romance de Jorge Amado; “Dona Flor e Seus Dois Maridos” em que o primeiro marido de Flor, Vadinho, de seu apelido, lhe dizia: “Flor, meu amor, vamos vadiá?”

Boa vadiação a dele, uma actividade que os cachorros, hoje em dia, só praticam quando os seus donos programam o nascimento de uma prole, normalmente com fins lucrativos. 

E assim, cogitando, vou ocupando o meu tempo vadiando por aí…


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