quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Incongruências evangélicas


Muito se fala do nascimento de Jesus, da gruta, do burrico e da vaca, dos “reis” ditos magos (?), da estrela anunciadora, etc.
Ninguém fala do massacre dos inocentes. Segundo os evangelhos, o Herodes (o Grande), chateado por lhe terem ido dizer que nascera o rei dos judeus, quando o rei era ele, portanto, se nascera outro só poderia ser um usurpador e, como tal, teria de ser suprimido. Assim mandou assassinar todos os bebés nascidos nos últimos dias. Falava-se em cerca de trezentos mas depois devem ter caído em si pois naturalmente nem trezentas mulheres em idade de conceber haveria na Galileia. Agora já se diz que foram cerca de dezassete e até já li que teriam sido catorze. Fossem 300 ou 14, aquilo não se faz pois foi uma grande maldade. Penso que Deus (pai) devido à sua condição de omnipotente e omnisciente, nunca o permitiria. Então para salvar um (o seu divino filho) matavam-se outros? Claro que no tempo em que se escreveram os evangelhos (cerca de setenta ou noventa anos DC) matar era ainda mais comum do que hoje e praticava-se a torto e a direito para preservar interesses. Esqueceram-se de que, mais tarde, os exegetas estudariam todos esses assuntos e que poriam em causa muito do que se escreveu. Houve exegetas tendenciosos, que tudo endeusaram, mas também houve muitos que chegaram à conclusão da não veracidade evangélica.
Naquele tempo (governava o tetrarca Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande), andava por ali um orador, um tal João a quem mais tarde chamaram o Baptista. Era um profeta revolucionário que falava ao povo pondo em causa a governação do território. Segundo Flávio Josefo, historiador judeu da época, Herodes foi alertado para os discursos subversivos do João e, para evitar males maiores, mandou prendê-lo, tendo o pobre sido encerrado na fortaleza de Maqueronte na província de Pereia onde mais tarde foi executado, não referindo que ficou com ou sem cabeça.
Segundo o evangelho de Marcos, o tetrarca (governador de uma quarta parte de determinado território) Herodes deu uma festa de aniversário na Galileia, provavelmente na capital Tiberíades, onde a sua mulher Herodíade, (ex-mulher do seu meio-irmão também chamado Herodes) em conluio com a sua filha Salomé, depois de esta ter executado uma célebre dança dos sete véus, pediu a seu pai a cabeça de João Baptista numa bandeja. O papá mandou decapitar o pobre João e lá vem a cabeça na bandeja para gáudio das mulheres e dos convivas. Ora ou Mateus ou Flávio Josefo estão a mentir. Não acredito que a ser verdade o que Josefo escreve, e esse era historiador, tenham ido a cerca de 180 Km buscar a cabeça e trazê-la a tempo de ser apresentada ainda na festa onde os convivas, chateados, já se teriam pirado ou se encontravam a dormir curando-se das bebedeiras que certamente apanharam. A Herodíade não gostava de João por ele considerar ilegal o seu casamento e a Salomé que se apaixonou pelo dito parece que foi repudiada pelo rapaz. Houve, portanto um conluio antecipado entre mãe e filha para tratarem da saúde ao pobre João.

Marcos refere que João estava preso por andar a recriminar o rei Herodes pelo seu casamento com a mulher do irmão, o que seria contra as normas judaicas em vigor, o que não é referido por Josefo. Aqui há também uma incongruência, uma vez que Marcos chama rei a Herodes Antipas quando ele era apenas tetrarca. Pois é! Mais uma vez parece provar-se que os ditos evangelhos não passam de mitos baseados em lendas. Até aquilo que aparece nos escritos de Flávio Josefo sobre Jesus Cristo (cerca de três ou quatro parágrafos) não resistiu a estudos e provas grafo-técnicas tendo-se provado a adulteração dos textos. Daqui se infere que Jesus continua a não ter veracidade histórica e que a igreja se tem esforçado a criar eventos e até adulterações para construir a historicidade de Jesus. Mas há mais…
Esta história do banquete parece ter sido inspirada num episódio do Antigo Testamento no livro de Ester, que fui respigar na Internet:
Conta-se que um rei, casado com uma bonita mulher, para suscitar a inveja dos seus nobres, organiza um banquete e faz vir a rainha à sua presença para a mostrar, de modo a que todos a admirassem. Durante esse banquete o rei pergunta à rainha: “Faz um pedido bela Ester que ele te será concedido, mesmo que desejes metade do meu reino”. Tudo se passa como na versão de Marcos, só que a rainha, em vez de pedir cabeças degoladas, pediu a libertação do povo judeu.

Mais uma vez se verificam cópias quase integrais de factos de uma religião para as outras. É por estas e outras que não tenho nenhuma e dou-me muito bem com isso.
Tentei também saber qual o sobrenome do dito João, mas não cheguei lá. Baptista foi o apelido que lhe foi atribuído pelo hábito que tinha em mergulhar as gentes no rio. O pai era Zacarias e a mãe Isabel, mas não encontrei nome de família. Baptismo deriva do grego e mais tarde também adoptado pelos romanos, mas tinha vários significados, entre eles lavar, mergulhar, purificar, etc. O hábito tornou-se comum como cerimónia iniciática de várias religiões (purificação) e depois adoptado também pelos cristãos devido ao episódio do Baptismo de Jesus narrado em três dos evangelhos (Mateus, Lucas e Marcos).


Enfim, incongruências.

3 comentários:

  1. Pois é... As incongruências são pequenos detalhes que se anulam com fé cega e irracional... As pessoas sentem-se muito melhor acreditando naquilo que lhes convém e não lhes cria dúvidas nem nervoso nas suas consciências adormecidas... ou melhor, entorpecidas...

    Os escritos, evangelhos, livros ou outra qualquer outra forma de transmissão de "verdades" e conceitos religiosos, são aquilo que se quer fazer acreditar e pouco mais... embora, naturalmente, contenham factos verídicos que ajudam na construção de uma narrativa que possa parecer credível... Mas a similitude de pormenores plasmados nos textos de várias religiões, diferenciados no tempo e até na linha filosófica de diferentes religiões, faz-nos acreditar na hipótese de que a verdade místico-religiosa é sempre "apimentada" com muita mentira e fantasia para que os crentes se possam sentir mais confortáveis na inconsciente aceitação do essencial, ou seja, a imperativa necessidade de se acreditar em algo... E se se acreditar sem pensar nem pôr em causa, melhor para os arautos das religiões. A fé no fundo, funciona como o entorpecente da racionalidade e da dúvida... Acredita-se porque sim!...

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  2. Respostas
    1. Como o comentário é excelente resolveste colocá-lo em duplicado. És um vaidoso. Se deres licença vou eliminar um. Tudo aquilo que dizes, e muito bem dito, é a verdade, só que nem todos querem ver. O que se crê desde pequenino é difícil de se largar

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