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As três tendas foram
montadas assim como um avançado para duas mesas. Na tenda grande ficaria o
pessoal, noutra, Rogério, Bwango e Tembo. A mais pequena para Ricardo e Ana.
Montaram uma banca para a cozinha com os dois fogões e debaixo do avançado puseram
o frigorífico a trabalhar onde colocaram água, cervejas, algumas garrafas de
coca-cola, águas tónicas e gin. O camião guarnecia a traseira das tendas e as
outras viaturas os lados. À frente fizeram uma boa fogueira que iam alimentando
com o molho de lenha colocado ao lado. Ao escurecer acenderam os petromaxes e
tiveram que aplicar mosquiteiros devido à bicharada que começou a esvoaçar à
volta das luzes entrando por todo o lado. No fim, Ricardo mostrava-se
satisfeito pelo trabalho realizado. Aquilo começava a parecer-se com um
autêntico safari.
Ana estava exausta e
recolheu-se mais cedo. Os três homens e Tembo ficaram sentados à mesa a
conversarem. Pouco depois Tembo não resistiu ao sono e foi deitar-se. Os homens
começaram a combinar a estratégia de aproximação para quando tivessem de
enfrentar os elefantes. Ricardo não queria abater nenhum, bastava assustá-los
de tal modo que não pensassem voltar para aquelas bandas. Só em caso de muito
perigo disparariam contra os bichos. O elefante é um animal demasiado nobre e
importante no ecossistema da zona, teriam de fazer os possíveis para não terem
de liquidar qualquer deles. Havia que ter especial cuidado com as fêmeas com
filhotes pequenos e especialmente com o grande chefe da manada. Esse seria o
principal problema, pois que para defender o grupo seria bem capaz de atacar.
Se o fizesse, teria de ser travado quer com gritos e gestos quer com tiros para
o ar. Se insistisse não haveria outro remédio se não abatê-lo.
Ricardo já caçara
elefantes. Todo o caçador tem sempre em mira abater o seu primeiro elefante.
Mas não gostara do que fizera. É um animal demasiado nobre e, apesar de a carne
ser boa para comer, é enorme e desperdiça-se grande parte. Por outro lado não
há assim tantos que se possa permitir o abate mesmo em caça turística. O
governo fazia muito bem em proibir e reprimir o comércio de marfim. Mas é
sabido que quanto mais se proíbe, mais o produto sobe de preço no mercado negro
o que faz aumentar a caça ilegal.
Quando os animais causam
demasiados estragos às populações é necessário tomar medidas, mas matar, só
mesmo em caso de perigo eminente ou casos de machos solitários que se tornam de
tal maneira violentos que nada os segura. Nestes casos, o abate era a única
solução e o governo, como era o caso, contratava especialistas assumindo as
despesas.
Após as coisas terem ficado
mais ou menos programadas e decididas, os homens foram-se deitar. De manhã a
procura continuaria.
Ainda era noite quando se
levantaram. Prepararam o jipe e o jipão. No jipe, à frente, seguiam Ricardo com
Ana ao lado, Rogério, Bwango e Tembo atrás. No jipão seis homens serviam de
equipa de apoio. Ana pela primeira vez levava uma espingarda de caça calibre 9,3
mas Ricardo tinha a seu lado a sua velha 375. Rogério e Bwango também usavam 9,3.
Os homens do jipão não iam armados de espingarda mas levavam bombas tipo
carnaval para assustar os animais.
Foi Tembo quem primeiro
notou os excrementos dos elefantes. À medida que avançavam notavam-se as fezes
mais frescas e fumegantes. O barulho de ramos a quebrarem-se fê-los ficar
alerta. Pararam os carros e seguiram a pé formando um semi-círculo com os
caçadores no meio. Aproximaram-se o mais possível, mas a uma distância ainda
razoável, o grande macho que se encontrava só e a uns cinquenta metros da
manada, começou a dar sinais de alguma impaciência. Os carros com os motores a
trabalhar a muito baixa rotação, vinham aproximando-se como Ricardo ordenara.
Poderia ser necessário retirar à pressa e só com eles a fuga seria possível.
O grande macho virou-se e
levantou a tromba cheirando. Depois deu um urro e correu em direcção à manada. Nesse
momento Ricardo deu sinal e o pessoal começou a acender as bombas lançando-as.
As espingardas deram tiros para o ar. A manada fugiu em direcção contrária
seguida do grande chefe, arrasando tudo à sua passagem e fazendo um barulho
ensurdecedor. Ricardo ordenou o cessar-fogo e ficou alerta, o barulho da fuga
continuava, mas ainda poderia haver perigo. Após alguns minutos considerou-se
satisfeito e regressaram aos carros. Estavam a subir para as viaturas quando um
grande bramido se fez ouvir fazendo estremecer toda a gente. O grande
paquiderme vinha correndo na direcção deles de tromba levantada e abanando as
orelhas. Ricardo gritou a Ana que se refugiasse atrás do jipão e voltou-se para
o local de onde o bicho vinha, Rogério e Bwango ficaram uns vinte metros atrás
e separaram-se deixando-o no meio. O grande elefante parou a uns cinquenta
metros batendo as patas no chão e abanando as orelhas de tromba levantada.
Ricardo deu dois tiros para o ar e fez sinal para que os outros atirassem
também. O estrondo dos tiros não o demoveu e o grande macho continuou a avançar
com gestos ameaçadores direito a Ricardo que era quem se encontrava mais à
frente. Ana deu um pequeno grito temendo pela vida do seu homem, pegou na
espingarda mas as mãos tremiam-lhe demasiado. Não seria capaz de realizar
nenhum tiro de jeito. Bwango correu para ao pé de Ana. Só Rogério ficou a uns
metros de Ricardo. O caçador branco meteu a arma à cara e esperou o grande
paquiderme. A uns vinte metros Ricardo deu um tiro por cima da cabeça do bicho
e continuou a aguardar. Os corações de todos estavam em taquicardia pela
adrenalina desenvolvida e o receio marcava a cara de Ana e Bwango. Rogério
esperava que Ricardo abatesse o animal e ficou na expectativa. O bicho, a uns
dez metros, parou, bramiu e levantou a tromba batendo no chão com as patas
dianteiras. Ricardo apontou e aguardou um curto momento. O grande animal abateu
a tromba, deu dois passos atrás e soltando um grande bramido virou-se e correu
direito à manada que já não se via. Ricardo depôs a arma e só então Rogério
conseguiu respirar fundo.
O grande caçador enfrentara
uma grande prova e dera mostras de grande coragem. Todos correram para junto
dele com manifestações de carinho e apreço. Ana saltou-lhe literalmente ao
pescoço apertando-o contra si e exclamando quase a chorar:
– Grande burro teimoso ias-me
matando de tanto susto. Podia ter abortado.
Ricardo abriu muito os
olhos.
– Quê?
Muito bonito texto; Que pena ser publicado no blog, só isso explica a razão de não ter comentários!Caro Coronel, sugiro-lhe, mais uma vez, que use o seu portal, é de acesso mais rápido e mais fácil. Este excerto é uma narrativa excelente, entusiasmante e, sobretudo, didática; É uma menção absorvente relativa ao verdadeiro animal rei da selva, onde é realçada a sua nobreza, coragem e inteligência! Não deixe isto por aqui,eu gostaria que mais gente o lesse. Um abraço.
ResponderEliminarCaro Amigo. Este texto faz parte de um livro que escrevi sobre uma aventura em África. Dei-lhe o nome de "Caçador Branco". O meu blog tem bastante divulgação entre os meus amigos e só Pilões são montes deles. Às vezes também divulgo no Face. Agradeço o seu comentário. Grande abraço
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