terça-feira, 1 de maio de 2012

ALVORADA

Publico aqui, uma carta que, há anos, enviei para o DN, quando, uma onda de austeridade estúpida, passou pela cabeça dos nossos governantes de então e, sem mais nem menos, resolveram acabar com o meu colégio, o Instituto dos Pupilos do Exército. Aliás, este texto, serviu depois para complementar vários escritos posteriores. Como estamos também agora a viver tempos de “cortes”, como sempre apenas para espoliar o pobre do cidadão comum, convém relembrar que continuaremos a lutar pela nossa escola.
... 


Era uma 5.ª – feira do início de Outubro do ano de 1948. Lembro-me da minha Mãe me perguntar se queria ir para casa ou ficar. Poderia ir para casa até à 2.ª – feira seguinte. Decidi ficar. Tudo era novo para mim. Lembro-me de me sentir pequeno nos claustros onde agora me sinto grande demais. Lembro-me do tanque de remo me parecer um lago. A minha Mãe deixou-me com alguma estupefacção pela minha decisão de ficar. Brinquei todo o dia no tanque de remo com um barquito que construí com casca de palmeira. Vendi-o por 2$50 a um que como eu também ficou. Na manhã seguinte tive uma das melhores sensações da minha vida. Acordei ao toque da alvorada. Nunca mais aquele toque me soou como no 1º dia. Que música! Foi algo de fantástico escutar aquelas notas saídas da corneta do Cabo “Batata”.....
Assim começaram sete anos da minha vida passados no colégio que me educou. Onde aprendi tudo o que o que deveria saber para me tornar um cidadão válido ao meu País e, onde conheci Professores que o não eram só, mas Educadores que se preocupavam em ensinar além da matéria curricular.
...-Olha lá Chefe de turma, onde está o 250? Foi à “ menstruação” Meu Capitão! - Menstruação? Deves querer dizer mensuração. Olha lá, sabes o que é menstruação?...
Naquela aula um velho capitão de Infantaria, militar da I Grande Guerra, com catarro provocado pelos gases, explicou a rapazes de 12, 13 anos, o ciclo menstrual da mulher. Claro que naquele tempo o ouvimos com atenção mas com um sorriso malandreco nos lábios, mas também com a ânsia do saber. Nunca me esqueci dos Mestres que se preocuparam em explicar-me tudo aquilo que não entendia. O que os Mestres não me ensinaram aprendi por via dos mais velhos. E se alguns castigos foram demasiado pesados (poucos) para as faltas cometidas, outros foram dados na altura certa... e profícuos.
... O meu Colégio vai fechar? O Meu Pilão vai fechar? Não pode ser!... Não posso deixar!... Então vamos apenas ficar com colégios incaracterísticos onde ninguém aprende nada, os alunos não consideram os Professores e só os gozam e apupam, quando não os agridem? Não pode ser?
Quem poderá tomar tal atitude? O Estado? Não acredito! O Estado deve preocupar-se com o ensino dos seus Cidadãos. O Exército? Também não acredito! O Exército ganha mais com um elemento oriundo do Pilão, do que com muitos de formação geral. Por causa de questões orçamentais? Também não pode ser! O ensino, um bom ensino, é sempre um bom investimento, por caro que seja.
Então é mentira!... Vou ficar descansado.


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