quinta-feira, 8 de março de 2012

Missas e TV

Uma das coisas que mais me irrita é, quando ao domingo, ligo a TV e ao fazer o primeiro “zapping”, deparo com uma missa num canal e outra noutro. Porque é que eu, num aparelho que tenho em casa, como elemento lúdico, cultural e informativo, tenho de apanhar com duas missas quando até nem sou religioso, crente, supersticioso, astrólogo, tarólogo ou quejando? Já sei, vão-me dizer que estamos num país de maioria católica, que muitos deles são velhos, não se podem deslocar às igrejas, etc. etc. E eu pergunto; que tenho com isso? Então e os bruxos? E os árabes? E os Judeus? Também deveriam ter direito a verem as suas sessões nos antros de bruxedo, mesquitas e sinagogas, na TV?
Mas o pior é que além de missas ainda tenho de ouvir o patriarca a arengar postas de pescada em assuntos políticos misturando-os com os mandamentos da lei do deus dele, metendo medo aos créus com a perda da vida eterna por não seguirem os seus ensinamentos tendo muitas vezes o desplante de colocar esses ensinamentos à frente das leis do país. Estou-me nas tintas que o cardeal queira ser político. Até pode sê-lo. Ninguém o proíbe, ou deveria proibir, de fazer parte dum partido político e fazer propaganda partidária desde que não misture as coisas. O tipo também não gostaria que aparecesse um qualquer na sua igreja e começasse, do púlpito, a fazer um comício comunista ou socialista. Porque se armam então em propagadores de fé em organismos privados ou estatais não religiosos? E o papel do estado? A nossa constituição diz que o estado português é laico e defensor de que os indivíduos possam professar livremente qualquer fé ou religião. Então porque privilegia uma religião em detrimento das outras? São estes tratamentos diferenciais que causam as grandes colisões entre religiões. Uns sentem-se discriminados em relação aos outros. Não seria bom evitar isso? Claro que não estou para levar com sessões de missa católica, arengações em mesquitas ou ladainhas hebraicas em sinagogas. Nem as TVs iriam nisso, o seu tempo é demasiado precioso para ser perdido em tal. Então porque nos impingem as católicas? Claro! Assim agradam ao poder. Poder esse que deveria ser completamente isento. Só a laicidade completa resolverá o problema. O estado não pode misturar as coisas. Quem quer procissões que as siga. Quem quer missas que vá à Igreja. Quem quer aprender religião que as estude ou frequente a catequese.
Para as comemorações públicas não devem ser convidados padres. Para as missas não se convida ninguém. Quem quer vai, assim como um padre se quiser ir a uma comemoração pública que vá, mas apenas como público, não como convidado. Porquê convidar o cardeal patriarca e não o sheik Munir? E o rabi de Lisboa? E o representante do Dalai Lama? E o mestre dos Budistas? E os sectários do Aga Khan? E os Tugues? E os bruxos? E a Maya como representante dos astrólogos e tarólogos? Bem lixados estávamos. Tínhamos de arranjar uma bancada só para religiosos, supersticiosos e quejandos.
Só a laicidade completa serve o Povo, o Estado e a Igreja.
Se pegam nesta minha vontade, lá perde o padre Borga o emprego e a ICAR um dos seus melhores meios de propaganda. Mas nós, os espectadores, só teríamos a ganhar.

Rui Cabral Telo

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