Ainda a propósito do Código da Vince
Li o livro e gostei. Não é nenhuma obra de arte nem se baseia em factos rigorosamente históricos, é certo, mas está bem concebido como história policial e põe a nu algumas facetas mais escabrosas da igreja dita católica apostólica romana.
Vi o filme e também gostei. Não sendo nenhum candidato aos Óscares, está bem feito e segue “quase” rigorosamente o livro que até parece ter sido escrito já como guião do próprio filme.
Dizem os que não gostaram e o contestam que o filme não tem veracidade histórica. Como a poderia ter?
A igreja católica apostólica romana baseia-se na aceitação de um deus (semideus) também ele sem veracidade histórica. Nenhum historiador ou filósofo da época escreveu ou falou sobre Jesus dito o Cristo. Os que escreveram, quer os evangelhos apócrifos quer os canónicos, muitos anos após a época em que se diz ter vivido a personagem principal, não conheceram Jesus. Portanto, das duas uma, ou os escreveram sobre tradições orais transmitidas de boca a boca com as deturpações que isso causaria ou os escreveram por encomenda com o fim de ser criada uma nova religião. Esta última teoria tem mais a minha aceitação na medida em que o conhecido historicamente é que Constantino aceita o Cristianismo, mais tarde tornada a religião oficial do império. É no Concílio de Niceia que são estabelecidos os principais fundamentos de uma religião criada com o fim de unir os súbditos à volta de uma figura que pelos “seus” ensinamentos os preocupe mais com a morte e o que se lhe seguirá do que com os negócios do Estado e a forma como o poder era exercido. Todas as religiões foram estabelecidas sobre mitos e esta não foi excepção. Aliás o mito até nem foi muito bem construído de início, foi é muito bem criado e aproveitado pelos poderes. Se lermos as mitologias Grega e Romana (principalmente a Grega) verificamos que as mesmas são muito mais ricas em pormenores que propriamente o novo testamento. Sobre a vida de Jesus (nos evangelhos ditos canónicos) sabe-se muito pouco ou quase nada. Aparece ao nascer, depois aos 13 ou 15 anos, num episódio curtíssimo e incongruente, depois só aos 30 e até aos 33. É pouco para um deus.
Aliás não é um deus inteiro, mas sim um semideus tal-qualmente outros anteriores como Hércules, etc. construído à imagem e semelhança de Mitra (1), fazendo parte de uma trindade como muitos anteriormente e também redentores.
Para aparecer como homem, fizeram-no filho (2) de uma mortal que, para conceber de deus tinha que ser imaculada. Com isso criaram nos crentes a aversão ao sexo e à mulher sexuada que ainda hoje perdura e grandes prejuízos trouxe para a humanidade.
Com este mito (virgem Maria) conseguiram acabar com o culto da deusa (fertilidade) que imperava no paganismo e apagaram completamente a mulher da sociedade deixando aos homens e aos poderosos o comando de tudo e todos.
Falo apenas nisto superficialmente pois não cabe aqui escrever nenhum tratado de teologia e quem tiver tido a preocupação de se documentar, sem ser só seguidor do que a igreja estabelece, sabe do que estou a escrever.
Quero apenas dizer com isto que o Dan Brown não escreveu um livro histórico apenas porque não há história em que se basear. O Priorado do Sião (3) é também uma criação ficcionada e só tem origem na segunda metade do século XX. Dan Brown escreve sobre mitos e sobre lendas que criaram os mitos. Quem quiser entender outra coisa que o faça. Estão no seu direito.
Rui Cabral Telo
[i]1. Pôs-se a hipótese de o Cristianismo se ter baseado nesta primitiva religião, talvez para que não fosse completamente nova e desconhecida e ser assim mais facilmente aceite. Pode-se verificar que a vida de Mitra decorreu exactamente como a de Jesus Cristo: nasceu, no dia 25 de Dezembro, de uma virgem; foi adorado por reis magos e pastores; viajou durante a sua vida ensinando e fazendo milagres; teve doze discípulos; celebrou uma última ceia; foi morto e sepultado num túmulo na rocha; e, por fim, ressuscitou por volta do dia 21 de Março (no equinócio da Primavera), três dias depois de ter sido sepultado e subido ao Céu. O mitraísmo incluia rituais celebrados ao Domingo e sacramentos, celebrando também a Páscoa. A tudo isto se junta ainda o facto de Santo Agostinho ter dito que o Deus que ele adorava era o mesmo que o dos mitraístas.
Os animais que o simbolizavam eram o carneiro (que representa no cristianismo a morte inocente de Jesus para salvar a Humanidade) e o leão (que era o animal da tribo de Judá, da qual descendia Jesus). Aparece também um jovem musculado e viril, pleno de força, a dominar um touro nos mitreus romanos.
Os animais que o simbolizavam eram o carneiro (que representa no cristianismo a morte inocente de Jesus para salvar a Humanidade) e o leão (que era o animal da tribo de Judá, da qual descendia Jesus). Aparece também um jovem musculado e viril, pleno de força, a dominar um touro nos mitreus romanos.
2. Muitos séculos antes da era Cristã, o 25 de Dezembro já era comemorado: Na Índia era vivido na forma de um festival religioso, durante o qual o povo ornamentava as suas casas com flores e as pessoas trocavam presentes com amigos e familiares; na China era celebrado o Solstício de Inverno, fechava-se todo o comércio e celebrava-se em família; os antigos Persas celebravam esplêndidas cerimónias em homenagem a Mitra, cujo nascimento ocorrera a 25 de Dezembro. Vários deuses egípcios nasceram neste dia: Osíris, filho da santa virgem e deusa Nut, nasceu a 25 de Dezembro. Os gregos celebravam neste dia o nascimento de Hércules.
3. O Priorado de Sião foi declarado legalmente como uma associação francesa a 20 de Julho de 1956. O pedido de autorização de constituição foi efectuado a 7 de Maio de 1956, na Sub-Prefeitura de Polícia de Saint-Julien-en-Genevois (Alta Sabóia), mediante uma carta assinada pelos quatro fundadores: Pierre Plantard, André Bonhomme, Jean Deleaval e Armand Defago. A sede social estava estabelecida na casa de Plantard, em Sous-Cassan, Annemasse, na Alta Sabóia. O texto de constituição, conforme consta no Journal Officiel, número 167, segundo Pierre Jarnac, é o seguinte: "25 juin 1956. Déclaration à la sous-préfecture de Saint-Julien-en-Genevois. Prieuré de Sion. But: études et entr'aide des membres. Siège social: Sous-Cassan, Annemasse (Haute-Savoie).".
O objecto da sociedade era:
"La constitution d'un ordre catholique, destiné à restituer sous une forme moderne, en lui conservant sont caractère traditionaliste, l'antique chevalier, qui fut, par son action, la promotrice d'un idéal hautement moralisateur et élément d'une amélioration constante des règles de vie de la personnalité humaine"
ou seja, "A constituição de uma ordem católica, destinada a restituir numa forma moderna, conservando o seu carácter tradicionalista, o antigo cavaleiro, que foi, pela sua acção, a promotora de um ideal altamente moralizante e elemento de um melhoramento constante das regras de vida da personalidade humana".
(Wikipédia, a enciclopédia livre).
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