Hoje cremei um amigo. Um amigo de longa data. Ele um pouco mais velho do que eu, já estava nos Pupilos do Exército há dois anos quando eu entrei. Tínhamos os dois o espírito da caça e ambos gostávamos da natureza. Trepámos a todos os cedros da mata de São Domingos de Benfica e não houve ninho que não tivéssemos visto e referenciado. Andei a fugir dele para que não me chegasse a roupa ao pêlo por lhe tirar os pássaros que ele tão ciosamente guardava para si. Mais tarde caçávamos juntos. A amizade perdurou até agora. Há cerca de seis anos um implacável AVC atirou-o para uma cadeira de rodas. Com um senso de humor que deixava muito a desejar, com um mau feitio do caraças, alguma misoginia que o fez acabar sem o apoio de uma mulher (teve apenas o de sua filha e netos), mas também com a manutenção da grande amizade que nutria por todos nós (Pilões) que o apoiámos até ao fim, lá acabou deixando-nos um grande vazio mas também algum alívio por vermos acabado o seu e nosso sofrimento. Já era penoso visitá-lo por ver o estado a que estava a chegar depois de uma vida tão movimentada e sã que tivera na nossa companhia aquando das boas caçadas que fizemos. Custa ver partir um amigo, mas mais custa vê-lo entrar em degradação. Fica a recordação e a saudade. Obrigado Romualdo pela tua amizade.
Rui Cabral Telo
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