sexta-feira, 20 de abril de 2012

ABRIL

O militar sabia que algo ia mudar. Afinal andavam em reuniões e a assinar documentos arriscando a cabeça e a carreira para quê? Ali em África, militares cansados e desiludidos já não esperavam nada de bom. Os rapazes queriam voltar para casa enquanto estavam vivos. A sua terra não era aquela e aquela guerra nada lhes dizia. Os militares de carreira tentavam aguentar a rapaziada levantando-lhes o moral, mas eles próprios estavam descrentes. Há 15 anos que lutavam e a política não ajudava. Aquela guerra não se poderia ganhar só pela força das armas e as comissões sucediam-se. Alguns já iam com quatro. Quantas mais seriam necessárias? De Lisboa chegavam indicações de que algo se passava. Mas Março trouxe algo de frustrante. Camaradas tinham tentado um golpe e falharam. Porquê? O que correra mal? E agora? Ali e àquela distância o que se poderia fazer por eles? Mas esperaram. Sabiam que havia camaradas que não ficariam eternamente em espera.
A meio de uma manhã de Abril o militar recebeu um telefonema:
− Foi hoje.
A corrida aos jornais foi louca. A alegria também. Agora sim, as coisas iam mudar, o nosso País vai passar a ser a sério. Vamos ter educação. Vamos ter paz. Vamos ter dignidade. Vamos ter compreensão, enfim, vamos ter o que até aqui nos foi sonegado.
Tudo começou a correr pelo melhor; A guerra acabou, o povo voltou para casa, a liberdade instalou-se, os militares deram o mote para a instalação da democracia, mas…
… os portugueses estiveram tempo demasiado sob uma ditadura, não tinham qualquer preparação política para viverem em liberdade, os exageros começaram, a ganância tomou conta de todos e as asneiras sucederam-se. Os próprios militares dividiram-se e várias teorias surgiram. Em África sucedeu o mesmo e 15 anos de guerra deixaram demasiadas feridas. O povo africano, também impreparado, quis livrar-se do jugo colonial e provocaram o êxodo, mas tinham direito à liberdade e já nada era possível fazer em contrário.
No “puto”, os militares conseguiram acabar com a desunião entre si e, como não eram políticos, resolveram entregar o poder e fizeram-no.
Há 38 anos que os partidos políticos nos governam. Será que governaram? Então porque não melhorou a educação? Porque melhorou a saúde e está a piorar agora? Governou-se mal e tomaram-se as piores decisões. Quiseram viver à grande e endividaram o País esquecendo-se de criar bases sócio económicas para aguentar as crises que sempre aparecem. Agora a crise tomou conta de nós. Estamos piores do que estávamos.
Mas o pior de tudo é que se criou uma classe de energúmenos que, servindo-se do poder, obtiveram por corrupção, um nível de vida tal, que não largam nem por nada e, democraticamente vão fazendo leis que lhes permitem continuar agarrados a esse poder que nem lapas, e sentados à mesa do orçamento. As perdas que o País sofreu com isso, teriam dado para que agora, mesmo em crise, não fossem necessárias medidas tão drásticas como as que nos estão a sujeitar. Mas ninguém é punido. Ninguém tem culpas. O povo que pague a crise. O que nos resta? Quanto tempo aguentaremos? Que tristeza…

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