terça-feira, 3 de abril de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (XI)

Conversa XI


Um dos temas que queria discutir com Jesus era sobre Fátima. Estava receoso não fosse isso poder chocar o homem. Claro que não o estava a ver como divino, mas falar sobre uma aparição da Mãe de Jesus, não era fácil. Nem para ele nem para muita gente cuja fé, se postas em causa as suas convicções, as torna extraordinariamente agressivas. Como se temas religiosos e crenças não possam ser postas em causa. Penso que tudo pode ser posto em causa desde que se respeite o pensar dos outros. O facto de alguém não acreditar em algo e tentar demonstrar o porquê do seu descrédito, não ofende ninguém, assim como a fé dos outros também não ofende quem não a tem. Bem, muito a medo lá me dirigi a Jesus, que já me esperava no banco costumeiro. Assim que me viu foi dizendo:
– Diga lá, não tenha medo, vejo que aquilo que me quer dizer hoje o está a pôr tenso. Desembuche, sabe que sou bom ouvinte e nada me choca. Sei que o meu Amigo coloca os seus temas com respeito mesmo quando eles para si não passam de incongruências da mente humana.
– Jesus, o meu Amigo adivinhou os meus receios. Queria falar-lhe de Fátima. Quer ouvir aquilo que penso?
– Sou todo ouvidos.
– Então aí vai. Sempre que vejo na TV peregrinações a Fátima, fico extraordinariamente confundido nos meus sentimentos. É arrepiante sentir aquelas manifestações de fé colectivas. Por outro lado também fico perplexo por ver que a grande maioria que por ali anda não pensa nem se interroga sobre tudo aquilo. Também me confrange a grande necessidade de um povo inteiro ficar esperançoso de que um eventual milagre lhes possa alterar a sorte não fazendo eles próprios, na maioria das vezes, nada para que essa sorte mude. Como sabe eu não acredito nas aparições nem em almas do outro mundo. Uma aparição terrena de um humano que já morreu é uma aparição de uma alma do outro mundo. Se aquela veio cá então muitas outras poderão vir. Nunca por cá vi nenhuma e os que dizem que viram também nunca o conseguiram provar.
A aparição de Fátima é concretizada numa época difícil. Estava-se em plena guerra na Europa, a primeira república em Portugal era uma trapalhada total, como sempre o povo é que sofria, na Rússia tinha-se dado a revolução bolchevique, as igrejas estavam a ser postas em causa, enfim...aquele facto revelou-se salvador.
Eu, como muitos, pergunto: Porquê os videntes serem crianças praticamente analfabetas? Por que é que Maria não apareceu a um professor de filosofia acompanhado de uma turma inteira em digressão pelo campo? Pergunto também como foi possível a três crianças atrasadas, ignorantes, supersticiosas e medrosas, reterem na mente e conseguirem reproduzir depois, segredos tão complexos como os dois primeiros, porque o último... cuidado... é um atentado à inteligência de qualquer um? Sim, depois de tanta reclusão, tanto interrogatório, qualquer criança, mesmo sobredotada, ficaria tão aterrorizada que não seria capaz de falar algo direito quanto mais reproduzir temas tão complexos como reconversão da Rússia etc...
Claro que a Igreja mais uma vez aproveitou acontecimentos noutros países também descritos por crianças completamente ineptas como Bernardete em Lourdes-França. E só a Igreja ganhou. Ganhou adeptos, crentes e dinheiro, muito dinheiro. Tanto dinheiro que a Igreja ortodoxa, resolveu também arranjar a sua Fátima e criou a famigerada dita santa da Ladeira para sacar dinheiro aos crentes. Assim como assim, se uns podem por que não os outros?
Claro que em tudo isto também tiveram muita sorte. Alguns fenómenos meteorológicos e outros de persuasão colectiva ajudaram a convencer o povão de que algo de sobrenatural tinha acontecido. Trataram de colocar as crianças a recato para que nada dissessem que pudesse pôr em causa um facto que queriam acreditado. A Lúcia, única vidente ainda viva, era à época uma criança rude e mitómana compulsiva. Hoje, depois da reclusão a que foi sujeita e das sucessivas lavagens ao cérebro, deve estar absolutamente convencida que tudo aquilo foi verdadeiro. Aliás uma mentira à força de ser repetida torna-se verdade...
O culto Mariano foi extraordinariamente bem pensado, veio ao encontro de anseios escondido no recôndito dos espíritos ainda eivados de paganismo. Voltava-se ao culto da Deusa, agora com o beneplácito da Igreja católica.
Jesus escutava-me apreensivo. Via-se que estava com dificuldade em dar-me a sua opinião. Depois de muito pensar disse-me:
– Meu Caro se o povo precisa de uma aparição que tenha essa aparição. Se isso torna os seus corações mais ternos, afáveis e esperançosos, que tenham a sua aparição. Minha Mãe estará certamente feliz. Eu fiquei feliz.  
E eu pensei...Os padres estão felizes, o Estado está feliz e eu infeliz por verificar que o ser humano com as suas crenças, continua a ser utilizado por aqueles que usufruem com isso.
Mas a resposta de Jesus agradou-me. Disse-lhe:
– Meu bom Amigo. A sua resposta disse-me tudo. Obrigado por me ter ouvido. Até amanhã e continuação de boas palestras. Continue a tomar cuidado com quem o ouve. Lembre-se que os tempos são outros. A maldade no mundo está cada vez mais activa. Até amanhã.

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