quarta-feira, 25 de abril de 2012

Hoje, 25 de Abril de 2012. Após 38 anos…


Hoje é dia 25 de Abril. Pela minha mente voltam a passar as imagens vividas em Nampula após o conhecimento do que se passara naquela manhã. A corrida aos jornais deixaram em pânico os pobres ardinas que acabavam largando os pacotes cujo conteúdo se espalhava na rua. A ânsia do querer saber levou as pessoas a apanharem os jornais com sofreguidão. Ninguém se aproveitou e todos foram pagar aos rapazes que choravam sentados no muro, pensando que a venda do dia estava perdida. Havia em todos uma sensação de intranquilidade mas ao mesmo tempo de alegria por sentirem que algo ia mudar em Portugal saindo-se daquele marasmo político a que a ditadura nos habituara por imposição. No largo Neutel de Abreu, entre o Quartel-general e a messe militar, só se via gente de rádio ao ouvido tentando perceber não só o que se passara mas o que se seguiria. As esperanças eram muitas, as incógnitas também. O país iria mudar, a guerra acabaria e os homens voltariam às suas terras, casas e família. Os homens tornar-se-iam mais solidários, cultos e civilizados. Os bens seriam melhor distribuídos e a ganância acabaria. Das grandes aquisições teria de se provar a proveniência dos proveitos que lhes deram origem…

… Agora, olho a televisão e vejo lá todos aqueles que tornaram possível que nada daquilo, que pensei naquele dia em Nampula, se concretizasse. Os homens a quem os militares entregaram os destinos da Nação não quiseram ou não foram capazes de transformar o país.
Pergunto porquê e não sou capaz de compreender. Ganância? Apego ao poder? Corrupção? Impreparação? Liberdade a mais? Para mim a liberdade nunca é demais, o que é demais é termos a nossa à custa da liberdade dos outros.
Esqueceu-se o ensino e aprendizagem política. Deixou-se que os instintos primários, de indivíduos recalcados por 50 anos de bota no pescoço, viessem ao de cima e virassem as consciências adormecidas e castradas, para consciências ávidas de poder e de ter. O melhor que se construiu neste país foi o Serviço Nacional de Saúde, agora até esse nos está a ser tirado.
O que se seguirá? Para onde caminhamos? Onde estará a solução? Que futuro?
O meu 25 de Abril foi defraudado.

Sem comentários:

Enviar um comentário