quarta-feira, 4 de abril de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (XII)

Conversa XII


Acordei deprimido. Era quinta-feira, tinha dormido mal. Jesus não me saía da cabeça. Quem seria o homem? Porque se vestia sempre da mesma maneira? Devia ter muitas indumentárias iguais para se apresentar sempre tão impecável. Lá que sabia umas coisas era certo. Que parecia um homem ponderado lá isso parecia. Gostava dele e preocupava-me saber que poderia ser apupado e gozado por alguns e mal querido por outros, que talvez não consigam admitir que alguém queira fazer o papel de deus. Quando o vi estava ele a observar a saída da missa. Sentei-me a seu lado cumprimentando-o com uma pequena palmada nas costas. Sorriu-me mas continuou olhando os fiéis que se afastavam calados. Também eu costumava fazer o mesmo, muitas vezes tentando adivinhar os pensamentos dos crentes que saíam das missas. O que seriam, o que fariam, que pediriam nas sua preces? A maioria devia assistir àquilo como um boi olhando um palácio. A maioria dos católicos que conheço não sabe nada da sua própria religião. Nem conhecem as escrituras. Falei uma vez com uma que nem sabia o que eram o Antigo e o Novo Testamentos. Os não católicos, como protestantes, adventistas do sétimo dia, etc... sempre sabem mais qualquer coisita. Mas a maioria são religiosos por via uterina, já lhes vem da barriga das Mães. Perguntei a Jesus:
– Porque seria que os Cristãos se dividiram tanto? Jesus respondeu:
– Olhe meu Amigo, nada tenho a ver com as Igrejas. Aquela que fundei não era para ser isto nem as outras. Não criei rituais. Criei apenas ideias que procurei e procuro ainda incutir nas mentes dos que me ouvem. Aqueles que me seguiam e seguem, entendiam e entendem, seriam e serão a minha Igreja e só uma. Os rituais foram criados por homens e cada congregação procura dar simbolismo aos procedimentos. As políticas e os interesses dos seus mentores é que criaram as diferenças.
– Pois é meu Caro. As religiões seguidistas de um único deus têm de ter regras rígidas. Regulamentos, como se duma tropa se trate. Tudo o que não fica escrito e estipulado, tem tendência a alterar-se com os tempos e as ideias e, por dá cá aquela palha, os espertos que querem o poder, vão minando a alteração das regras consuetudinárias acabando por dividir para reinarem. Com regras bem definidas e escritas é mais difícil a mudança. Vejam-se os Judeus, sendo uns mais modernos outros mais ortodoxos, seguem todos as mesmas normas. Segundo Leon Uris, o autor do célebre Exodus, a religião e os seus preceitos é a força principal da união dos Judeus. Pelo menos era. Agora outros interesses os unem. Os cristãos, seus seguidores, cometeram o erro de dividir deus. Três deuses num só são um sacrilégio para as outras religiões monoteístas.
Jesus sorria. Disse:
– Deus é um só. Tem é a capacidade de se dividir e fazer representar. Eu aqui represento Deus. Tive e tenho a missão na Terra de levar os homens a praticarem o bem e a serem solidários com todos os seus semelhantes. Mais! Com toda a criação. Fazer o bem não é só ser bonzinho para a família e para o vizinho. É também estar atento à natureza, ao ambiente. Participar na forma da governação dos homens. Reclamar contra os poderosos que tudo sugam e subvertem. Manifestarem-se contra políticas expansionistas e imperiais, enfim, pugnar por um Mundo melhor.
– Amigo Jesus, com essas ideias vai continuar a fazer inimigos. Tome cuidado. A natureza humana é muito egoísta. A grande maioria quer é viver bem com o máximo de bens materiais à sua volta e quanto mais melhor. Depois habituam-se de tal maneira que quando as perdem vão, muitas vezes, até ao crime para as recuperarem.
Fomos mais uma vez divagando e não falámos sobre o tema que trazia hoje. Numa conversa anterior falei-lhe daquele livro que tinha lido, “ O Código DaVince”. Dizia o autor que Leonardo DaVince foi um dos Grãos Mestres duma sociedade secreta chamada Priorado do Sião, sociedade essa que foi durante séculos guardiã de um segredo sobre o Santo Graal. Dizia o autor que o Graal nunca tinha sido um cálice, mas antes o segredo da descendência de Cristo. Graal derivou de Sangreal ou Sangue Real. Segundo parece a sua Madalena era de sangue real e a sua descendência punha em causa os grandes de Israel. Dizia também ele que DaVince sabia que a última ceia não tinha sido uma despedida mas sim uma festa da vossa união. Realmente uma das personagens que pintou no seu célebre quadro é absolutamente feminina e a hostilidade dos outros para com aquela é naturalmente visível. Diga-me O que é realmente o Graal?
– Cálice? Disse Jesus. Naquele tempo não havia cálices nem copos, bebia-se por malgas feitas toscamente de madeira. O Graal é mais uma das lendas criadas pelos mentores dos mitos. Madalena estava e sempre esteve comigo. Ela era a minha seguidora número um. Foi realmente a ela a quem eu pedi para continuar a minha missão. Ela era a primeira pedra da minha Igreja. Os homens não o deixaram. Não o quiseram assim. A Igreja nunca poderia ser obra de mulheres. Fracassei nessa e noutras missões. A humanidade está como está. Vou continuar a tentar as transformações...se me deixarem. Não pressinto nada de bom.
Quando deixei Jesus ele continuava sentado na mesma posição e muito deprimido. Eu não estava melhor.

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