segunda-feira, 2 de abril de 2012

As Minhas Conversas com Jesus (X)

Conversa X


– Bom dia Jesus, vai bem?
Isto está a tornar-se demasiado familiar. Tratar-se assim um deus não é lá muito convencional. Tenho que descobrir quem é realmente este tipo, senão tenho de me reconverter. Gaita! Como é que me fui meter nisto? O certo é que gosto deste gajo. Aquilo que diz, não sendo demonstrável, às vezes tem alguma coerência. Tenho de tomar cuidado, alguns já foram levados por tipos menos inteligentes.
De qualquer modo apanhei Jesus num dos seus dias bons. Estava bem-disposto, boa cara, alegre, um ar pouco endeusado mas um sorriso esclarecedor da sua excepcional perspicácia.
– Bom dia Amigo, então qual o tema que traz hoje para conversação?
– Olhe, para não estarmos sempre a falar de coisas míticas, hoje quero falar-lhe de pedofilia, pode ser?
Jesus franziu o sobrolho, pareceu-me que o tema não era aquilo que ele esperava, mas disse:
– Fale, Amigo! Todos os temas são bons para mim.
– Pois é, meu caro, isto tem a ver também com o matrimónio dos padres. Que me diz sobre isso? Como deve saber, pois em princípio o meu caro deve saber tudo, eu sou bisneto de um padre. O meu Bisavô, padre católico, de uma boa família deste País, raptou uma donzela, também de uma boa família, de Mãe Espanhola e Pai Português, dela teve dois filhos um dos quais o meu Avô. Viveu com a minha Bisavó até à morte e estão os dois sepultados lado a lado. Tenho orgulho no meu Avô, mas não lhe perdoo não ter mandado o sacerdócio às urtigas e ter assumido totalmente os filhos. Também não lhe perdoo não ter perfilhado os putos deixando-os com o nome da Mãe e o nome do Pai timidamente escondido como sobrenome. Foi Padre até ao fim e nisso foi coerente. Naturalmente se tivesse assumido a sua condição de amancebado, teria sido excomungado e atirado para a valeta. Que me diz disto?
– Como sabe, também eu tive problemas desses. A minha união com Madalena nunca foi bem vista por aqueles que se diziam meus seguidores. Não fui eu que proibi o matrimónio aos sacerdotes. Estes são homens como os outros. Não são santos nem eunucos. A natureza humana é sexuada. Tudo o que for contra isto é contra-natura. Um sacerdote é um homem que se determinou a transmitir a palavra e a ideia de Deus. Não deixa de ser homem por isso. Coarctar-lhes a sexualidade é maldade pura.
– Pois, continuei; Por isso os Padres, católicos claro, uma vez que não podem ter relações sexuais às claras têm-nas às escondidas. A grande maioria arranja governantas de quem têm filhos e a estes chamam-lhes afilhados. Isso seria até bastante saudável, mas o pior é que alguns, pelo medo de arranjarem esses esquemas, metem-se noutros menos claros, mas que, muitas das vezes, dominam melhor. Rapazinhos e miúdas das catequeses são presas fáceis desses depravados que os intimidam com os poderes de deus. Não é isso, Jesus?
– Meu Amigo. Tem toda a razão. Tudo isso é fruto duma hipocrisia da Igreja. Como sabe essas leis não foram impostas por Deus. Os Senhores da Igreja assim o decidiram. Meter mulheres no seio da igreja era perder poder e ir ao encontro dos princípios pagãos em que o culto do feminino imperava. No paganismo existia o culto da Deusa. Era a Deusa da fertilidade. Só a mulher dá fruto. É como a Terra nossa Mãe. Da Terra tudo nasce com a fertilização do sol.
– Até que enfim, meu amigo Jesus, que vem ao encontro dos meus pensamentos. Até parece que sou eu a falar. Aliás já tínhamos aflorado o tema numa das nossas conversas. Mas a pedofilia não é só apanágio dos padres. Por que existem homens pedófilos? Por que não fazem sexo com adultos?
– O meu Amigo está a fazer-me essas perguntas porque lhe interessa a opinião divina. Sabe tão bem quanto eu as respostas, mas não vou fugir à questão. Claro que a culpa é da Igreja que tornou o sexo como diabólico. Na idade média a mulher estava associada ao diabo. Aquelas que tinham a veleidade de deixar exteriorizar a sua sexualidade acabavam queimadas como bruxas, porque o sexo sempre limitou o homem e o tornou dependente da mulher. Isso era muito mau. Tirava ao homem aquele dom que a Igreja dizia ser divino de comandar tudo e todos. Assim, tudo o que se fazia às escondidas estava bom, o feito às claras era sempre mau porque dava a conhecer aos outros fragilidades que não deviam ser reveladas. Um homem não pode nunca ser dependente e uma mulher tem que ser completamente obediente e subjugada. Essas limitações estúpidas levam os homens à substituição das mulheres por crianças sempre mais domináveis. Claro que também há os traumas Freudianos. Isso são outras histórias, talvez até mais doença que outra coisa. O que levará homens, que parecendo saudáveis, na maioria casados e com filhos, a procurar crianças para a sua satisfação sexual?
– E por que o deus, de quem se diz filho, permite tal coisa? Um deus dito omnipotente deixa o fruto da sua criação tomar tais atitudes? E as crianças? Não estarão também protegidas por deus? Porquê? Porquê?
Não tem respostas? Pois... já adivinhava.
Bom, vou almoçar, não sou deus, tenho de comer.
– Bom apetite, disse Jesus com ar amigo.

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