sábado, 21 de abril de 2012

MEUS NATAIS…MINHAS FADAS…

Escrito após um 25 de Dezembro


Hoje o Menino Jesus já não vai descer pela minha chaminé. Desceu todos os anos e agora…
Parece que afinal já não é ele que traz os nossos brinquedos. Tantos anos a trazê-los e de repente passam o assunto para os nossos pais. Assim, sem mais nem menos. Sem nos perguntarem qual a nossa opinião, sem quererem saber qual a nossa preferência. O Natal perdeu a graça. O meu Pai nem cabe na chaminé…
Continuo a ir à chaminé na manhã do dia 25, os brinquedos estão lá na mesma, mas já não consigo visualizar aquele menino risonho de cabelo encaracolado e de camisa de dormir, a colocar os brinquedos no sapatinho com aquelas pequeninas mãozinhas.
Foi o meu Pai e Mãe que lá os puseram. Parece-me impossível. Por que me disseram uma coisa e agora me dizem outra?
No ano seguinte já não colocámos sapatos na chaminé. Para quê? Jesus já lá não vai!?
Transformaram aquele menino no ridículo velho de barbas a quem chamam Pai Natal. Bah! Não tem mesmo graça nenhuma.
….
Hoje penso que não se devem enganar as crianças. A realidade mostrada de repente faz doer. Não sei se dói por nos sabermos enganados se por perdermos o encantamento. A história do Natal é uma bonita e romântica história. Mesmo sem estarmos a pensar na divindade de Jesus, a história continua a ser bonita para os cérebros infantis.
Uma família pobre que, por não encontrar, habitação, acaba por ter de permanecer num estábulo onde uma mãe linda tem um menino mais lindo ainda, que todos vão visitar e adorar.
A seguir estragam tudo com aquela maldade do rei Herodes a mandar matar trezentos recém nascidos, só porque lhe foram dizer que tinha nascido o futuro rei dos judeus. Não se faz! Nem quem devia ter nas mãos os destinos dos povos o deveria ter permitido. Para salvar um matam-se trezentos, crueldade!
Mais tarde ainda, muita coisa se me interroga e me deixa confuso. Quem contou a história do nascimento de Jesus? Terá sido ele próprio? Hum…normalmente não nos recordamos do nosso nascimento. Terão sido os pais? Também não me parece, não é natural contar-se a toda a gente como nasceram os nossos filhos, além disso, pode contar-se a meia dúzia de pessoas, mas essas não vão recontar isso a toda a gente. Esses episódios esquecem-se e perdem significado. Por outro lado poderia ainda haver o perigo de alguém relacionar os factos e lembrar-se da morte dos recém nascidos…
A história também não o registou. Aliás, a história só regista nascimentos importantes, como os reais. O registo civil também não existiu. Afinal quem contou?
Segundo os evangelhos, escritos dezenas de anos depois e segundo o recontar de vários indivíduos, a infância de Jesus foi uma infância normal sem episódios significativos, parece apenas que aos quinze anos foi até ao templo falar com os sacerdotes e encantou todos com o seu saber e discernimento. Depois, só aos trinta anos começou a pregar.
Só nessa idade Jesus começa a ter alguma importância para meia dúzia de seguidores no início, e depois para uns trinta ou quarenta que ouviriam as suas prédicas. Quem nessa época terá mostrado interesse pelo seu nascimento? Como o relacionaram com o nascimento num estábulo em Belém, anunciado por uma estrela gigantesca? Um judeu, pobre, quase andrajoso, filho de um carpinteiro, que sabia dizer umas coisas e falava por parábolas, não deveria suscitar grandes anseios no saber-se de como nascera. Parece-me também que, à época, aquele povo seria muito pouco esclarecido e, com aquelas falas, muito poucos o entenderiam. Começo a pensar que esse Jesus não é o meu Menino Jesus que me punha os brinquedos no sapatinho…
Ainda muito mais tarde, curioso da história das religiões, venho a verificar que todas elas se baseiam em mitos e muitas, quase todas, se repetem nos seus princípios. Aí, deixei de acreditar em fadas…mas, recordo ainda o encantamento daquelas manhãs de 25 de Dezembro em que corria para a cozinha e, antes de ver os brinquedos, espreitava a chaminé para ver se o menino estaria ainda por lá ou já se evolara nos céus.
Estupidamente, levado pela família, deixei que fizessem o mesmo ao meu filho. Hoje ele aponta-me o erro, pois como eu também teve o traumatismo da realidade.
Podemos contar aos nossos filhos histórias de fadas, sem lhes fazermos crer que elas existem. As histórias resultam na mesma e não lhes causamos traumas pelos enganos. Parece-me pois que só a verdade é correcta deixando o resto ao imaginário de cada um.
Os Natais transformaram-se numa linda festa de família cada vez menos religiosa e muito mais mercantilista. Reúnem-se todos, come-se, bebe-se, trocam-se prendas à meia-noite sem se esperar pelo Menino Jesus pois o tal velho ridículo já deixou os presentes dentro de meias penduradas numa árvore artificial.
Após isso acaba tudo. Uns contentes pelas prendas recebidas outros desiludidos porque esperavam diferente ou melhor, regressam a suas casas e até para o ano. O Pai Natal voltará.
O meu Menino Jesus já não volta…

1 comentário:

  1. Acho que as crianças já esqueceram o menino Jesus, comercialmente foi lançado o Pai Natal, está-se a ver que era dificil aparecer um menino de fralda a tirar fotografias com as criançinhas em qualquer Centro Comercial e como explicar que um rapaz de tenra idade poderia carregar um saco com brinquedos pela chaminé abaixo? Não sei, se o melhor é contar a verdade...a vida é feita de ilusões que vamos perdendo com o tempo. Não te arrependas de não ter tirado nessa altura essa ilusão ao teu filho.
    Um abraço
    J. Cruz

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