quinta-feira, 12 de abril de 2012

POSEIDON


Mergulhei. A coluna precisa de exercício. Aquelas picadas de Angola e Moçambique deram-lhe muito trabalho. – Precisa de músculos. – Disse-me o clínico. − Para aguentar os machucamentos que isso foi tendo. As almofadas também já estão gastas. A idade não ajuda. Olhe que nadar fazia-lhe bem.
Fiz-lhe a vontade. Lá ir todos os dias ao hospital para a fisioterapia é que não vou. Antes lumbágico.
Agora, ali mergulhado, olhava, através dos óculos protectores do cloro, os ladrilhos do fundo da piscina. Os reflexos dourados provocados pela luz solar penetrada através das vidraças da grande janela e movimentando-se na água límpida, pareciam-me fulgores cintilantes desprendendo-se do nada e vindo até mim como mensagens telepáticas, mas visíveis, de um qualquer “Poseidon” de água doce. Fossem ou não missivas de um ser do Olimpo das profundezas, o certo é que me traziam uma enorme sensação de bem-estar, relaxamento e faziam-me esquecer a porcaria em que o meu País se tornara. O meu pensamento, normalmente inquieto, entrava em letargia.
E pensei; “Lá está a natureza mítica do homem a criar deuses para sossego do seu cérebro irrequieto e temeroso.”
Nadei, mergulhei, procurei e nada encontrei. O deus enviador de luz calmante, não estava lá.
Ao sair da água voltei à realidade.

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