segunda-feira, 16 de abril de 2012

MULHERES E LAGARTOS

(Excerto do livro “O Lagarto”)

Porque será que as mulheres não gostam de lagartos? Segundo os miúdos contavam parece que elas tinham medo que eles lhes subissem pelas pernas acima. Dizia-se lá na terra que isso poderia acontecer quando andavam menstruadas. Pobres bichinhos. Como poderia um bicho tão bonito ter atracção por semelhante coisa? Não deveria ser lá muito agradável. Por outro lado, não constava que gostassem de sangue. Apenas comiam insectos, larvas e outros lagartitos mais pequenos. Agora sangue? Bah! Não acreditava naquilo. Só se fosse para entocarem, Ah! Ah! Ah! Além disso eles tanto fugiam das mulheres como dos homens. Mas havia muita história sobre os pobres e pequenos “sáurios”. Dizia-se até que eram amigos dos homens e os salvavam das cobras, que batiam com as caudas para os acordarem quando as serpentes se aproximavam. O puto era incrédulo acerca de tais coisas. Coitados dos bichos queriam era viver e passar despercebidos.
Mas era giro levar as miúdas a passear, saber onde estavam os lagartos e ao passar dizer, olha ali aquele bicho tão giro em cima das pedras. Havia gritaria e fugidela apressada. Parecia que viam o demo.
O Rapaz, com o lagarto no quintal, muito susto pregou às suas companheiras e amigas.
Quando só, olhava o bicho no seu quase sempre imóvel repouso admirando-lhe os desenhos em azul sobre o verde acinzentado da pele. Ainda há quem diga que azul e verde é escarro em parede. Ali, parecia ouro sobre azul.
Por baixo do sítio do muro onde morava o lagarto, ficava o canteiro das alfaces, que ele e o Pai tinham plantado. Desde que o lagarto lá habitava, a Mãe nunca mais lá foi apanhar nenhuma, tal o medo que o bichano lhe infundia.
A Mãe nunca referia lagarto, dizia sempre sardão. Era como os designavam na ilha das Berlengas onde em tempos tinham ido passar férias e pescar mais um casal de amigos. Naquela ilha os lagartos eram muitos e nada medrosos, corriam atrás das pessoas bufando com as bocas muito abertas. Para quem já tinha medo de bichos, está-se a ver.
Sardão ou lagarto, aquele tinha dono e ai de quem lhe fizesse mal.
As férias estavam a terminar e o puto já estava desgostoso de deixar o bicho. E se o levasse para o Pilão? Não, os outros acabavam por descobri-lo e matá-lo. Ali ficaria muito mais sossegado. Adeus bichano, viria vê-lo aos fins-de-semana.

3 comentários:

  1. O livro a que te referes está comercializado? Se tu és o autor, gostava de o ler.
    Diz-me como adquiri-lo
    Um abraço

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  2. Só agora reparo que tu referes "livro autobiográfico". Diz-me apenas como adquiri-lo.

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  3. Não publico. Envia-me o teu e-mail que eu mando-te esse e outros.

    ruicabral.telo@gmail.com

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