quinta-feira, 12 de abril de 2012

Novas Conversas com Jesus (FIM)

O que se segue não se pode dizer que se tenha tratado de uma conversa, foi mais uma transmissão de pensamentos. Ao chegar ao sítio do costume não vi Jesus. Deve ter seguido o meu conselho e partiu. Mas algo me moía dentro da cabeça, como se a voz do indivíduo me pedisse auxílio.
Sentei-me e esperei mais um pouco, mas a dúvida e apreensão tinha-se instalado no meu cérebro. Algo me dizia que as coisas tinham corrido mal para o tipo. Aquela mania de falar como sendo divino ser-lhe-ia sempre fatal. As pessoas não acreditam em poderes dos vivos. Só nos daqueles que são intermediários das divindades que moram no além, tipo santos e quejandos.
Para mim tinha sido bom. Mais uma vez não me conseguiram provar a existência de poderes sobrenaturais. Os fantasmas continuam a não entrar comigo. Ainda bem, assim só conto comigo e torno-me no meu próprio deus.
Levantei-me do banco público e fui até ao quiosque. Lá estava na primeira página num daqueles jornais que só noticiam a perfídia humana.
Numa qualquer aldeola, o povão apedrejara até à morte um pobre indivíduo que se dizia Jesus e enviado de deus. A GNR não chegara a tempo e nem tinha conseguido identificar nenhum dos agressores como é costume nestes crimes colectivos.
Desta vez tinha morrido como um judeu.
Espero que não volte mais. Eu não preciso dele. Afinal ele é que precisava de mim.

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