terça-feira, 10 de abril de 2012

Novas Conversas com Jesus (VI)

Bom dia Jesus! Veio cedo.
– Acabo os meus périplos e regresso sempre aqui. Conversar consigo é sempre um bálsamo para mim. Depois dos energúmenos a quem me dirijo e que se estão nas tintas para o que digo, falar consigo é um prazer.
– Não me diga! Você sabe que sou ateu, não acredito em divindades nem em semi-deuses.
– Pois é, mas escuta-me e debate o que já é muito bom.
– Isso não o assusta, os crentes não o quererem ouvir? Isso a mim só me faz ver que a maioria vê a crença como uma obrigação que lhe foi encaixada, que aceitou como certa, que daria azar não seguir, que é imutável, mas que só se cumpre por obrigação, depois, passados uns minutos, a vida volta ao mesmo e as crenças são postas de parte até ao próximo domingo. Não será assim?
– Infelizmente é isso. As pessoas estão demasiado superficiais, sempre atarefadas, com problemas a todos os níveis gritam “ Oh meu Deus!”, mas como nada acontece e têm de ser eles a resolver os problemas…
– Mas isso é terrível, só quer dizer que afinal deus não é pessoal, não está com cada um, será assim? Sempre ouvi dizer que se deve estar sempre a pedir a deus que nos conduza, que nos leve ao bom caminho que ele nos dará as respectivas compensações, afinal parece que não. Então deus resolve o quê?
– Olhe! Resolve o interior das pessoas. Se todos o tiverem em mente, serão melhores, terão mais paciência, suportarão melhor as agruras, serão melhores uns para os outros e viverão mais felizes.
– Meu Caro. Isso qualquer psiquiatra faz a troco de dinheiro, ou nem esse será necessário se o cidadão souber o que quer, para onde vai, e tiver mentalidade aberta e organizada. Penso que a educação, o conhecimento, a força de vontade, o discernimento e a cultura, farão um melhor papel do que esse deus de quem fala.
– E onde é que estão as pessoas com essas características? É precisamente para quem as não tem que Deus é necessário.
– Bah! Eduquem a rapaziada. Organizem escolas abertas, de mentalidades livres, sem religiões a indicarem-lhes caminhos obsoletos, sem ideologias retrógradas. Arranjem formas de os empregarem sem necessidade de competição acérrima. Ponham as capacidades de cada um ao serviço de todos e não daqueles que inventam necessidades supérfluas só para que se consuma desenfreadamente. Os recursos naturais vão acabar e essa necessidade não necessária, perdoe-me a incongruência, vai fazer estourar o planeta. Isto não é eterno. Quando tudo e todos acabarem a quem vai Você pregar? Se tudo acabar Você acaba também. Será que seu pai ficará por aí mais uns milhões de anos, como anteriormente, sem nada fazer, até lhe dar na bolha e criar uma nova humanidade? Espero que não. O resultado desta está à vista e não é brilhante.
Bem, Jesus. Com esta me vou. Tenho que ir para casa até ao meu computador e as minhas leituras. Também tenho de fazer alguma companhia à mulher que já anda estranha por eu demorar tanto nos passeios matinais. O meu amigo tem a sua culpa. Até amanhã.

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